MNE repudia “tom e conteúdo” de comunicado da embaixada russa sobre Pedro Abrunhosa

Fonte do ministério liderado por João Gomes Cravinho destacou que foi sublinhada à embaixada russa “a liberdade de expressão, com particular ênfase no domínio cultural e artístico, como um valor inalienável em Portugal”. Em causa estão as declarações de Pedro Abrunhosa sobre a guerra durante um concerto em Águeda, a 2 de Julho.

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Nelson Garrido

O Ministério dos Negócios Estrangeiros repudiou o “tom e conteúdo” do comunicado da Embaixada da Rússia em Portugal sobre um concerto de Pedro Abrunhosa onde este músico condenou a guerra na Ucrânia, e defendeu a liberdade de expressão como “inalienável”.

“Foi transmitida à embaixada da Federação Russa, através dos canais diplomáticos, o repúdio pelo tom e conteúdo do comunicado da embaixada relativo ao concerto do músico Pedro Abrunhosa”, adiantou hoje à agência Lusa fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

A mesma fonte do ministério liderado por João Gomes Cravinho destacou ainda que foi sublinhada à embaixada russa “a liberdade de expressão, com particular ênfase no domínio cultural e artístico, como um valor inalienável em Portugal”.

Durante um concerto em Águeda, a 2 de Julho, disponível na íntegra na plataforma Youtube, Pedro Abrunhosa falou sobre a guerra na Ucrânia, antes de começar a cantar o tema Talvez Foder, no qual aborda questões como a guerra, a fome e o fascismo.

“Não podemos, nem vamos esquecer, que a Europa vive uma guerra. E a guerra mais estúpida de todas, uma guerra perfeitamente evitável, uma guerra de ódios, uma guerra em que famílias como as nossas todos os dias têm que fugir”, afirmou na altura.

No vídeo do concerto também publicado pelo festival ouve-se a plateia a cantar com Abrunhosa o verso “Vladimir Putin, go fuck yourself” (a partir do minuto 26). Além do nome do Presidente, o cantor português menciona na adaptação desta sua canção as expressões como “barco russo”, “soldados russos” e “mísseis russos”. À medida que o público ia entoando as frases, o cantor continuava a incentivar: “Este grito hoje tem que se ouvir em Moscovo e em Kiev”.

A Embaixada da Federação Russa na República Portuguesa publicou esta semana, no seu site, um “comentário”, motivado pelas “declarações inaceitáveis do cantor Pedro Abrunhosa”. A representação russa dá conta que “tem recebido cartas dos compatriotas russos zangados que afirmam estar chocados pelo comportamento dum dos famosos cantores portugueses Pedro Abrunhosa”.

“Durante o concerto no festival AgitÁgueda 2022 ele se permitiu dizer várias coisas grosseiras e inaceitáveis sobre os cidadãos da Federação da Rússia, bem como os seus mais altos dirigentes. Além disso, Pedro Abrunhosa incentivava em êxtase os espectadores, entre os quais os russos que também pagaram os bilhetes, que repetissem o que estava a gritar, tendo no final expressado o desejo que as palavras dele fossem ouvidas em Moscovo”, relata a embaixada.

Este sábado, o músico Pedro Abrunhosa e a agência que o representa, Sons em Trânsito, pediram um “posicionamento do Governo português” em relação à “intimidação” que o artista diz ter sofrido por parte da Embaixada da Rússia em Portugal.

Pedro Abrunhosa e a Sons em Trânsito consideram que a embaixada quis dizer que a voz do artista “se ouviu nos corredores do poder russo e que as autoridades daquele país ficarão atentas às actividades do músico”.

No comunicado, a embaixada refere ainda que os “gritos vergonhosos” de Pedro Abrunhosa “enquadram-se em mais de que um artigo da legislação penal portuguesa, sendo que neste contexto informámos através dos canais diplomáticos os órgãos competentes de aplicação da lei”. “A Embaixada da Rússia continua a vigiar os interesses dos cidadãos russos residentes em Portugal, e nenhumas provocações ignóbeis contra eles ficarão sem resposta”, conclui.

Já Pedro Abrunhosa, que deseja “a obtenção da Paz o mais rapidamente possível para o povo ucraniano e o povo russo”, garante que irá continuar “a utilizar a sua voz e a sua visibilidade para esse fim, ou para outras causas que lhe pareçam justas, sempre que assim o entender”.

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