OMS declara varíola-dos-macacos como emergência global de saúde pública

Classificação acontece depois de ter sido detectado de um aumento mundial de casos de infecção com o vírus. “Temos um surto que se está a espalhar rapidamente à volta do mundo”, diz a OMS.

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Estão notificados mais de 16 mil casos de infecção de varíola-dos-macacos em 75 países Reuters/DADO RUVIC

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou este sábado o surto de varíola-dos-macacos como uma emergência global de saúde pública, depois de um aumento mundial de casos de infecção. Nesta altura, estão notificados mais de 16 mil casos em 75 países. Portugal totaliza 588 infecções confirmadas de infecção pelo vírus, 73 dos quais notificados na última semana.

“Temos um surto que se está a espalhar rapidamente à volta do mundo, do qual sabemos muito pouco e que cumpre os critérios dos regulamentos internacionais de saúde”, adiantou o director-geral da OMS em conferência de imprensa, após a reunião do comité de emergência.

Perante isso, Tedros Adhanom Ghebreyesus anunciou que “o surto global de monkeypox representa uma emergência de saúde pública de preocupação internacional”, estabelecendo recomendações para quatro grupos de países.

O primeiro desses grupos inclui os países que ainda não reportaram casos de varíola-dos-macacos ou que não têm registo de contágios há mais de 21 dias. O segundo abrange os países com casos recentes importados e com transmissão entre humanos. O terceiro grupo comporta os que apresentam transmissão do vírus entre animais e humanos. Por fim, o quarto inclui os países com capacidade de produção de testes, vacinas e tratamentos, avançou Ghebreyesus.

O director-geral da OMS referiu que esta classificação de emergência global ajudará a acelerar o desenvolvimento de vacinas e a implementar de medidas para limitar a propagação do vírus. “Este é um surto que pode ser interrompido com as estratégias certas nos grupos certos”, disse.

Invocar uma Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional (PHEIC, na sigla em inglês) é, basicamente, o alerta mais importante que a OMS pode dar ao mundo. As regras deste processo dizem que para declarar uma PHEIC a situação em análise tem de cumprir três critérios: deve ser um acontecimento extraordinário, com um risco que represente um perigo elevado à saúde pública de outros países e que exija uma resposta internacional coordenada. É a sétima vez que a OMS recorre a este instrumento de alerta global.

A classificação do surto de varíola-dos-macacos como emergência global de saúde pública aconteceu no final da terceira reunião do comité de emergência sobre o assunto, que decorreu este sábado.

O Comité de Emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a monkeypox também esteve reunido na quinta-feira para avaliar se o surto cumpria os critérios para ser declarado como uma emergência de saúde pública de preocupação internacional, mas não tinha conseguido chegar a um consenso.

“Convoquei este Comité de Emergência sobre o surto porque preciso do vosso conselho para avaliar as implicações imediatas e de longo prazo para a saúde pública da evolução deste evento”, adiantou o director-geral da OMS na abertura da reunião de peritos de várias áreas e países.

Tedros Adhanom Ghebreyesus manifestou-se preocupado com o número crescente de infecções. Alguns países já registam um aparente declínio de casos, enquanto noutros verificam-se agora aumentos de infecções, e seis reportaram os primeiros casos na última semana.

“Estou perfeitamente ciente de que qualquer decisão que tome sobre a possível determinação de uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional (PHEIC, na sigla em inglês) implica a consideração de muitos factores, com o objectivo último de proteger a saúde pública”, salientou Tedros Adhanom Ghebreyesus na quinta-feira.

Este “não foi um processo fácil ou simples e existem pontos de vista divergentes entre os membros” do Comité de Emergência, referiu Ghebreyesus, ao recordar que, actualmente, o surto se concentra sobretudo em “homens que fazem sexo com homens, especialmente aqueles com múltiplos parceiros sexuais”. No entanto, o “estigma e a discriminação podem ser tão perigosos como qualquer vírus”, alertou o responsável da OMS.

A reunião de quinta-feira foi a segunda do comité para analisar a evolução da monkeypox, depois de no primeiro encontro, que decorreu no final de Junho, os peritos terem considerado que a doença não representava uma PHEIC, quando estavam notificados cerca de 3000 casos em 47 países.

Portugal já adoptou as medidas necessárias

Portugal totalizava, na quinta-feira, 588 casos confirmados de infecção pelo vírus monkeypox, 73 dos quais notificados na última semana, indicou a Direcção-Geral da Saúde (DGS), avançando que já se iniciou a vacinação dos contactos próximos.

De acordo com o relatório semanal da DGS divulgado na quinta-feira, todas as regiões de Portugal continental e a Madeira reportaram casos de infecção humana pelo vírus VMPX, mas a grande maioria do total de casos (80,3%) foi confirmada em Lisboa e Vale do Tejo.

O Norte é a segunda região do país com mais casos reportados (55), seguindo-se o Centro (oito), o Alentejo (cinco), o Algarve (quatro) e a Madeira (três), refere a informação semanal da autoridade de Saúde.

Segundo a DGS, uma pessoa que esteja doente deixa de estar infecciosa apenas após a cura completa e a queda de crostas das lesões dermatológicas, período que poderá, eventualmente, ultrapassar quatro semanas. Os sintomas mais comuns da doença são febre, dor de cabeça intensa, dores musculares, dor nas costas, cansaço, aumento dos gânglios linfáticos com o aparecimento progressivo de erupções que atingem a pele e as mucosas.

De acordo com a DGS, Portugal já adoptou as medidas fundamentais para responder à varíola-dos-macacos. “Não implica muito mais do que aquilo que está a ser feito. Todas as medidas têm sido tomadas, mesmo sem essa declaração” de emergência de saúde pública decidida este sábado pela OMS, disse a porta-voz da DGS.

Segundo Margarida Tavares, a nível nacional “já estão implementadas as medidas fundamentais” para responder ao surto que surgiu a 3 de Maio. A directora do Programa Nacional para as Infecções Sexualmente Transmissíveis e Infecção por VIH da DGS destacou ainda: “O que temos assistido é um número constante semanal e até com uma tendência ligeiramente decrescente.”

Notícia actualizada às 19h06: foram acrescentadas declarações da DGS.

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