O gelo que derreteu na Gronelândia (em três dias) dava para encher 7,2 milhões de piscinas olímpicas

Cientistas norte-americanos dizem que a temperatura na Gronelândia tem estado pelo menos seis graus mais alta do que o suposto para esta altura do ano.

Foto
Só na última década, derreteram em média 357 mil milhões de toneladas de gelo por ano na Gronelândia JULIAN CHARRIERE/Reuters

Em média, cabem numa piscina olímpica cerca de 2,5 milhões de litros de água. Nos dias 15, 16 e 17 de Julho, derreteu tanto gelo na Gronelândia que a água resultante de tal derretimento dava para encher 7,2 milhões de piscinas olímpicas.

É isso mesmo. Em apenas três dias, derreteram 18 mil milhões de toneladas de gelo na Gronelândia (o que em água líquida equivale às tais 7,2 milhões de piscinas), território autónomo dinamarquês que é conhecido pelo manto branco que cobre as suas montanhas. A notícia foi avançada, esta quarta-feira, pelo canal de televisão norte-americano CNN, que citou especialistas do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo, uma instituição norte-americana.

“Vários dias” marcados por temperaturas “excepcionalmente quentes no Norte da Gronelândia provocaram um derretimento acelerado” de grandes mantos de gelo, explica a CNN, referindo que os termómetros na Gronelândia têm registado temperaturas na ordem dos (aproximadamente) 16 graus Celsius. Isso, aponta o Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos EUA, corresponde a um aumento de (no mínimo) seis graus face aos valores que, dados os antecedentes históricos, deveriam estar a ser observados nesta altura do ano.

“Sem dúvida que fico preocupado”, comentou o cientista Kutalmis Saylam, investigador da Universidade do Texas (Estados Unidos) que, por estes dias, está na Gronelândia em missão de trabalho. “Ontem [terça-feira], podíamos andar de um lado para o outro de t-shirt. Não estávamos de todo à espera disso.”

Ted Scambos, cientista do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo, começou por dizer à CNN aquilo que parece ser óbvio. “O degelo ocorrido na semana passada não é normal, olhando para [os últimos] 30 a 40 anos de médias climáticas”, reflectiu, num primeiro momento, o especialista. “Mas o derretimento tem aumentado e, nesse sentido, este evento foi um pico.”

Foto
A camada de gelo da Gronelândia, a segunda maior do mundo, está a derreter a um ritmo acelerado JIM URQUHART/REUTERS

​Uma situação que fica cada vez mais grave

No final do ano passado, um estudo publicado na revista Nature Communications avançou que, só na última década, derreteram em média 357 mil milhões de toneladas de gelo por ano na Gronelândia. Os anos de 2012 e 2019 foram particularmente severos: ondas muito acentuadas de calor levaram a níveis históricos de degelo.

O estudo sustenta que os fenómenos de degelo extremo têm vindo a aumentar em frequência há pelo menos 40 anos. “À medida que o nosso clima aquece, é de se prever que os casos de degelo extremo na Gronelândia venham a acontecer com mais frequência”, afirmou o autor principal do trabalho, o investigador Thomas Slater, a propósito da divulgação do estudo.

A água que resulta do gelo derretido é, posteriormente, transportada até ao oceano, o que resulta na subida do nível médio das águas do mar. Thomas Slater e os investigadores com quem trabalhou estimam que, até ao ano passado, o derretimento da camada de gelo da Gronelândia teria sido, à escala global, responsável por qualquer coisa como 25% da subida do nível médio do mar nas últimas décadas. A camada de gelo da Gronelândia, refira-se, é a segunda maior do mundo (a maior camada de gelo do planeta é a da Antárctida).

Se a camada de gelo da Gronelândia derretesse integralmente, o nível do mar em todo o mundo subiria cerca de seis metros, embora isso pudesse demorar séculos ou milénios a ocorrer. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), o nível do mar já subiu 20 centímetros desde o início do século XX e é provável que, até ao final deste século, suba entre 28 e 100 centímetros (ou até mesmo 200 centímetros).

Um relatório recente do Polar Portal, repositório em que instituições e centros de investigação da Dinamarca divulgam os resultados da sua monitorização da camada de gelo da Gronelândia, indica que 2021 foi o 25.º ano seguido em que essa camada de gelo perdeu mais massa durante a “estação de derretimento” do que aquela que ganhou durante os meses de Inverno.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários