Natalia, a “senhora dos gatos”, corre as ruínas de Kharkiv para alimentar animais abandonados

Natalia Pasternak, de 68 anos, é a última residente do prédio onde vive em Kharkiv, e todas as manhãs sai para cuidar da sua maior companhia: os gatos abandonados da cidade.

Neste edifício, os últimos habitantes são Natalia e os gatos que resgatou. Reuters/NACHO DOCE
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Neste edifício, os últimos habitantes são Natalia e os gatos que resgatou. Reuters/NACHO DOCE

Todas as manhãs, a última habitante de um edifício no bairro de Saltivka, um dos mais bombardeados desde Fevereiro, sai de casa para procurar e alimentar dezenas de gatos abandonados. Na ronda que cumpre há meses, a “senhora dos gatos” estima já ter cuidado de uma centena de gatos abandonados por famílias que fugiram da guerra.

Natalia Pasternak, reformada e com 68 anos, sai de casa, um abrigo na cave do prédio, e sobe as escadas para encontrar os gatos, adultos ou recém-nascidos, que agora vivem entre escombros. Resgatou alguns, já instalados no seu quarto improvisado.

“Estão desprotegidos, quando as pessoas os deixam para trás, deixam de receber comida”, explica Natalia, em entrevista à Reuters, que acrescenta ter esta preocupação desde criança, sem saber porquê. Para pagar a comida que distribui pelo bairro tem feito alguns biscates. Trabalhos de costura, por exemplo. “Os gatos acompanham-me o tempo todo, não consigo mantê-los afastados.”

Ainda que alguns ucranianos regressem a Kharkiv, mesmo sem um cessar-fogo, a população que permanece em Saltivka é uma pequena fracção das centenas de milhares de pessoas que habitavam esta zona residencial. “Não preciso de mais. Eles compreendem tudo, mas não respondem, simplesmente não dizem nada”, reconhece Natalia, que também já depende da companhia dos felinos.

Apesar de não responderem, para Natalia, os gatos "compreendem tudo". "Não preciso de mais."
Apesar de não responderem, para Natalia, os gatos "compreendem tudo". "Não preciso de mais." Reuters/NACHO DOCE