Cantoneiros proibidos de trabalhar à tarde em Madrid quando termómetros atingirem os 39 graus

O acordo entre os sindicatos e as empresas que asseguram o serviço municipal de limpeza de Madrid surge na sequência da morte de um cantoneiro na passada sexta-feira, vítima de um golpe de calor.

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José Antonio González, de 60 anos, morreu na sexta-feira em Madrid, vítima de um golpe de calor Reuters/ISABEL INFANTES

Em Madrid, os cantoneiros vão poder parar de trabalhar durante o turno da tarde quando os termómetros chegarem aos 39 graus. O acordo entre sindicatos e empresas foi anunciado na quarta-feira e surgiu em resposta à morte de um trabalhador na madrugada de sábado, vítima de um golpe de calor enquanto trabalhava, na tarde anterior, sob temperaturas que rondavam os 40 graus. A reunião durou praticamente o dia todo de terça-feira, segundo a imprensa espanhola.

Ao El País, o filho de José Antonio González, que morreu aos 60 anos, denunciou na segunda-feira que “é desumano trabalhar sob 42 graus, sem sombra e com aquele vestuário”. Um dia depois ficaria decidido que, a partir do alerta meteorológico laranja (mais de 39 graus), os turnos da tarde dos varredores de rua passam a estar suspensos em Madrid, ou seja, só podem trabalhar durante o horário da manhã. As actividades de limpeza cujos veículos não tenham ar condicionado também ficam suspensas no período da tarde. E a estas restrições horárias acrescem melhorias da qualidade do vestuário, uma maior flexibilidade da parte dos empregadores nas trocas de turnos e os trabalhadores passam a ter de trabalhar em pares.

Assim que as temperaturas forem superiores a 36 graus (quando for lançado o alerta meteorológico amarelo), os turnos da tarde só começarão às 17h e actividades como a remoção de ervas daninhas e o uso de sistemas de ventiladores a diesel ficam proibidos. Caso os operários não tenham acesso a ventilação nos veículos, estão autorizados a fazer pausas de dez minutos a cada hora e meia.

O presidente da Câmara de Madrid, José Luis Martínez-Almeida, elogiou a decisão, escrevendo no Twitter que “não podemos voltar a permitir que a infeliz morte que se deu no sábado se repita. É por isso que incentivámos que se assinasse um acordo entre empregadores e sindicatos para estabelecer condições especiais perante uma onda de calor.”

Tal como Portugal, também Espanha passou por uma onda de calor, com efeitos na saúde dos trabalhadores e da população em geral. Durante o fim-de-semana, cerca de 14 cantoneiros sofreram “vertigens e vómitos”, de acordo com o El País, e na terça-feira, enquanto decorria a reunião, outro foi hospitalizado por causa de um golpe de calor.

A morte de José Antonio González foi assim a gota de água que levou a que sindicatos e empresas do serviço municipal de limpeza decidissem que estava na altura de mudar as medidas de protecção. Segundo o relato do filho de José Antonio González, citado pelo El País, este sofreu o golpe de calor por volta das cinco da tarde de sexta-feira - que foi o dia mais quente na capital desde que há registo, segundo o diário espanhol -, enquanto varria uma rua em Arganzuela, perto do centro de Madrid.

Não fosse uma troca de turnos, teria entrado às sete da manhã e finalizado o dia de trabalho às duas da tarde. Ao invés, entrou às 14h, com os termómetros a marcar 40 graus. Três horas depois sofria um golpe de calor que elevou a temperatura do seu corpo a 41 graus e o deixou inconsciente. Morreu durante a madrugada de sábado, no hospital, depois de um ataque cardíaco.

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