BioLiving pede ajuda para recuperar micro-reservas atingidas pelas chamas

Fogo que lavrou, na passada semana, em Estarreja causou danos nos bosques nativos criados pela associação ambiental. Dirigentes garantem que estes pequenos oásis de biodiversidade ajudaram a evitar o pior.

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Chamas pararam no bosque nativo, diz associação

O cenário é desolador. “Ardeu a nossa barraca de actividades e a área à volta, nas laterais e na frente”, descreve Rafael Marques, da Bioliving, associação ambiental que detém duas micro-reservas para a conservação da natureza na freguesia de Canelas, em Estarreja. Os incêndios que lavraram na passada semana nos concelhos de Oliveira de Azeméis, Estarreja e Albergaria-a-Velha causaram consideráveis impactos nas duas propriedades – Fonte do Cabreiro e Marçaneira – geridas pela associação desde 2016 e 2018, respectivamente. Dois “pequenos oásis de biodiversidade insertos num mar de eucaliptos e que foram fundamentais para proteger as populações (humanas e animais) do pior”, assegura a colectividade. A ajuda de todos é bem-vinda para recuperar o que o fogo destruiu.

Na Fonte do Cabreiro, bosque nativo que é atravessado por uma pequena ribeira - que, com os incêndios a montante, estava quase seca - a BioLiving mantinha o seu pequeno viveiro florestal, “com centenas de espécimes nativos que serviriam as plantações do próximo Inverno, um telheiro onde dinamizavam actividades, e um pequeno armazém de alfaias e materiais, como enxadas, picaretas, ancinhos, luvas e mangueiras, que usavam nos trabalhos de restauro ecológico”. De acordo com Rafael Marques, o viveiro, o telheiro e o armazém foram destruídos, ao localizar-se numa parte limítrofe da propriedade, colada a um eucaliptal vizinho, onde o incêndio ardeu com violência, numa frente que vinha de norte.

Menos mal que, “depois de consumirem estas áreas logísticas, as chamas encontraram o bosque nativo plantado pela BioLiving em Março de 2016, e aí pararam, depois de chamuscar as duas primeiras filas de arvoredo”. E também “uma segunda frente, vinda de sul”, encontrou o lado oposto do bosque e também desse lado as chamas foram travadas, “impedindo o seu alastramento para junto de casas e hortas nessa região”, asseguram.

A menos de um quilómetro dali, na Reserva da Marçaneira - antiga área de eucaliptal que o grupo de ambientalistas e biólogos da Bioliving vinha a converter para floresta nativa, com a ajuda de dezenas de voluntários -, o fogo “foi travado pelos charcos para a vida selvagem que a associação tinha construído, pela vegetação nativa que tinham plantado, bem como pelos carvalhos que preservavam como santuários para a vaca-loura, uma espécie protegida de escaravelho”.

Apesar dos danos, a Bioliving garante que no mar de cinzas “ergue-se a vegetação nativa, bombeira, que protegeu a fauna local e evitou o pior”, cenário que só vem dar mais força à associação para continuar a desenvolver o seu trabalho. “Este episódio demonstra claramente a importância, por um lado, da floresta nativa para a segurança das populações humanas e selvagens, e, por outro, a necessidade de uma gestão florestal pensada à escala do território e não da propriedade”, alertam.

Não obstante a determinação para continuar, a BioLiving necessita agora de ajuda para reparar os danos. “Seria bom se conseguíssemos o apoio de uma empresa para reconstruir a barraca, mas os cidadãos também podem ajudar”, especifica Rafael Marques. Ainda este Verão, a associação abrirá um programa de voluntariado para dar início à recuperação.

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