Vingegaard esperou por Pogacar e depois consagrou-se na montanha

Camisola amarela deu exemplo de fair-play quando o esloveno caiu, mas não perdoou nos Pirenéus, garantindo o segundo triunfo depois dos Alpes e o ponto final da discussão do Tour.

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Vingegaard e Pogacar EPA/GUILLAUME HORCAJUELO

Jonas Vingegaard (Jumbo Visma) sentenciou, salvo qualquer golpe de teatro, o Tour 2022 ao vencer, esta quinta-feira, a 18.ª etapa da Volta a França, a última de montanha, com 143,2 quilómetros, com partida em Lourdes e chegada no Hautacam, nos Pirenéus.

Tadej Pogacar atirou a toalha ao chão a quatro quilómetros da meta, quando o dinamarquês foi à procura da vitória de amarelo, ganhando mais de um minuto ao esloveno depois de Wout van Aert ter detonado o corredor da Emirates, que tem três dias para anular quase 3m30s.

Por fim, Pogacar e Vingegaard separam-se depois de mais um duelo privado, com ataques constantes do vencedor das duas últimas edições do Tour e resposta sempre pronta do camisola amarela.

Sem a “muleta” de qualquer companheiro de equipa, Pogacar tentou de tudo, imprimindo mudanças de velocidade na esperança de quebrar a resistência do rival. O duelo foi intenso e ganhou, mesmo, contornos de drama na última descida, quando Vingegaard evitou no limite uma queda que poderia assumir consequências desastrosas.

Na arriscada perseguição ao esloveno, o corredor dinamarquês aguentou-se num exercício de puro equilibrismo, vendo pouco depois Pogacar a derrapar na areia da berma da estrada e a cair, ainda que sem consequências graves para o esloveno, que se levantou e foi em busca do líder do Tour.

O momento que se seguiu proporcionou uma das imagens mais felizes do desporto, com o fair-play de Vingegaard a revelar de que são feitos os verdadeiros campeões. O camisola amarela não só não atacou, como esperou por Pogacar, que agradeceu o gesto, percebendo nesse instante que encontrou um rival à altura para a mais que provável passagem de testemunho.

A etapa já tinha uma baixa importante, com o abandono, antes mesmo da partida, do quatro vezes vencedor do Tour (2013, 2015, 2016 e 2017) Cris Froome (Israel), após testar positivo a covid-19.

No que diz respeito à tirada, a última oportunidade para Pogacar reduzir a diferença para o líder de forma a poder ter hipóteses de recuperar a amarela no contra-relógio de sábado - 40,7km entre Lacapelle-Marival e Rocamadour, destaque para a fuga de um grupo liderado pelo virtual vencedor da camisola verde, Wout van Aert (Jumbo Visma), no dia da Bélgica.

Com o grupo reduzido ao belga e ao colombiano Daniel Martínez (INEOS), após ataque de Van Aert praticamente no início da escalada para o Hautacam (13,6km com 7,8% de média de inclinação), e o quinteto do grupo de Vingegaard e Pogacar a cerca de um minuto, prevalecia a incerteza quanto ao vencedor, ainda que a diferença para a frente tivesse reduzido drasticamente a meio da subida, já só com os dois candidatos e Sepp Kuss (Jumbo Visma) na perseguição.

Van Aert e Martínez acabariam mesmo por ser alcançados a menos de cinco quilómetros da meta, com Kuss a passar a bola a Van Aert para uma última ajuda a Vingegaard, esfumando-se a possibilidade de nova vitória em etapa do ciclista belga, uma das maiores figuras da Volta a França, fundamental para acabar com as aspirações de Pogacar renovar o título de campeão.

Vingegaard, que garantiu a vitória no prémio da montanha, assumiu, no final, que queria ganhar a etapa para dedicar à mulher e à filha, a quem “tinha prometido vencer”. O dinamarquês agradeceu o esforço da equipa, sublinhando o papel de Kuss e Van Aert na parte final, depois de ter “esperado por Pogacar, que falhou a curva e resvalou na areia” para mostrar quem é o mais forte deste Tour.

O esloveno estava resignado e aceitou o segundo lugar como o resultado possível: “Fiz o que podia. Ataquei a pensar na amarela e não na etapa”, explicou, mesmo que a estratégia lhe tivesse custado a possibilidade de repetir a vitória da véspera e de poder conquistar a camisola da montanha.

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