Ondas de calor são o “coro de angústia” da Terra, diz Papa

Papa Francisco apelou aos líderes mundiais para darem à crise climática a mesma atenção que dedicam a outros problemas globais, como as guerras e a pandemia. E lembrou que são as populações pobres e indígenas as que mais sofrem com a mudança do clima.

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Como resultado de interesses económicos predatórios, as suas terras ancestrais estão a ser invadidas e devastadas por todos os lados, provocando um grito que sobe aos céus”, disse o Papa Francisco Reuters/VATICAN MEDIA

O Papa Francisco pediu esta quinta-feira aos líderes mundiais que prestem atenção ao “coro de gritos de angústia” da Terra em consequência da crise climática e perda de biodiversidade. Na mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, o papa pediu às nações que enfrentem as mudanças do clima com a mesma atenção que votam a outros desafios globais, como as guerras e crises de saúde.

O líder religioso referiu ainda que o aquecimento global prejudica mais as populações pobres e indígenas. Na sua opinião, os países ricos têm uma “dívida ecológica” porque são os que causaram a maior poluição ambiental nos últimos dois séculos, prejudicando a canção da natureza. “Tragicamente, essa doce canção é acompanhada por um grito de angústia. Ou melhor ainda: um coro de gritos de angústia. Em primeiro lugar, é a nossa irmã, a mãe-Terra, que grita. Refém dos nossos excessos consumistas, o planeta chora e implora para que acabemos com os nossos abusos e destruições”, escreveu o Papa Francisco.

Os serviços de bombeiros e protecção civil lutaram contra incêndios florestais em diversos pontos do sul da Europa esta semana, provocando alertas de que a luta contra as mudanças climáticas precisa de ser mais intensa. As ondas de calor também contribuíram para este cenário.

O apelo veio alguns dias antes de o Papa partir para uma viagem ao Canadá, onde se reunirá com indígenas em Iqaluit, no Árctico canadense, que faz parte da região de aquecimento mais rápido da América do Norte. “Expostos à crise climática, os pobres sentem ainda mais gravemente o impacto da seca hidrológica, de inundações, furacões e ondas de calor cada vez mais intensas e frequentes”, disse Francisco. “Da mesma forma, os nossos irmãos e irmãs dos povos nativos estão a clamar. Como resultado de interesses económicos predatórios, as suas terras ancestrais estão a ser invadidas e devastadas por todos os lados, provocando um grito que sobe aos céus”.

Francisco repetiu um apelo “em nome de Deus” que já tinha feito no ano passado e que é dirigido às indústrias de mineração, petróleo, silvicultura, imobiliária e agro-negócio: “parem de destruir florestas, pântanos e montanhas, parem de poluir rios e mares, parem de envenenar alimentos e pessoas”.

O Papa, que em 2015 escreveu uma grande encíclica sobre protecção ambiental, afirmou que a cúpula da ONU COP15 sobre biodiversidade, que será realizada no Canadá em Dezembro, seria uma grande oportunidade para chegar a um acordo capaz de deter a destruição de ecossistemas e a extinção de espécies. Ele disse que a COP15 poderia construir uma base ética clara para as mudanças necessárias para salvar a biodiversidade, apoiar a conservação e dar prioridade às populações vulneráveis, incluindo os povos indígenas. Pediu ainda a aplicação “efectiva” do Acordo de Paris, cujo objectivo é limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C.

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