O estado conjuntural da nação

Até Setembro, os portugueses têm de controlar a ansiedade e o medo, pois também não podem contar muito com os deputados dos partidos da oposição que não exigiram ao primeiro-ministro mais pormenores.

No debate anual sobre o Estado da Nação tivemos mais do mesmo, em cima da mesa a espuma dos dias, e, por estes dias, os “temas quentes” são os incêndios, inflação, falhas do SNS e o caos no aeroporto. Uma vez mais, António Costa abriu o debate com os grandes feitos do Governo num contexto adverso de pandemia e de guerra. Aproveitou também para exaltar medidas do Orçamento, que finalmente entrarão em vigor, como as creches gratuitas. Mas o otimismo veio ensombrado de uma crise anunciada: a inflação veio para ficar.

E o que é que o Governo vai fazer? Anunciar mais medidas de apoio às famílias e às empresas apenas em Setembro. Até lá, os portugueses têm de controlar a ansiedade e o medo, pois também não podem contar muito com os deputados dos partidos da oposição que, com discursos feitos, não exigiram ao primeiro-ministro mais pormenores. Mas a dura realidade é que a inflação destrói a economia também pela incerteza que esta gera. As empresas tendem a adiar decisões de investimento, os portugueses, em geral, ficam perdidos, quanto a decisões de poupança e investimento, e a saúde física e mental de quem conta os parcos tostões para sobreviver é colocada em maior risco.

Num debate antes de férias nada se ouviu sobre medidas concretas para combater a falta de professores. Enalteceu-se a assinatura de um acordo com os municípios relativo à descentralização, mas pouco se percebeu qual o seu impacto na contratação de professores e nas eventuais políticas municipais de incentivos à fixação destes nas escolas. O ano letivo vai certamente começar manco, mas, claro, este tema poderá esperar por Setembro.

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