#5 Vírus do shopping

Como raio é que passaram da “miúda despreocupada que veste o fato de banho que lhe pusemos ao fundo da cama, uns jeans e uma T-shirt” para a “miúda que conhece todos os sites de biquínis e PRECISA de quatro”?

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@DESIGNER.SANDRAF

Mãe,

Mas que raio acontece às nossas filhas para que de um verão para o outro passam a ter cravings irracionais por roupa? Como raio é que passaram da “miúda despreocupada que veste o fato de banho que lhe pusemos ao fundo da cama, uns jeans e uma T-shirt” para a “miúda que conhece todos os sites de biquínis e PRECISA de quatro”?

Tenho ideia de nunca ter sido atacada por este vírus, mas se calhar a mãe tem uma memória diferente? Mesmo que o tenha apanhado, julgo que tive sintomas ligeiros e temporários. Já a mãe, que adora o programa das compras, explique-me qual pode ser o gozo de andar de loja em loja? Ou então não explique nada e venha buscá-las e leve-as ao shopping mais próximo por mim, porque quando entro em lojas transformo-me num Grinch difícil de aturar.


Querida Filha,

Passo por aí daqui a meia hora! Não te mexas. Viva, mais uma janela de oportunidade para avós. De facto, nem sei se vale a pena tentar explicar-te o prazer de entrarmos numa loja e descobrirmos uma camisola ou uma T-shirt que é mesmo a nossa cara. Como se estivesse ali à nossa espera. Pronto, é verdade, atribuímos-lhe poderes mágicos e acreditamos que, com ela vestida, tudo vai ser mais fácil, num banho de auto-estima que nos permite agir em conformidade — e mais seguras de nós mesmas, sorrimos e falamos mais e isso rende logo frutos.

É claro que não é daquele trapo em si, mas é fácil que a suposta relação de causa-efeito se cole nos nossos neurónios. Sobretudo na adolescência, o sentir-se vestido à altura faz milagres.

É verdade que nunca apanhaste mais do que uma versão ligeira deste vírus, que só te deu para calças à boca-de-sino e pouco mais. O que teve para mim uma enorme vantagem, podia ser eu a escolher e a comprar e a oferecer-te. E tu ficavas genuinamente contente. Ganhávamos as duas.

Desculpa, com a resposta a esta tua carta, estou a atrasar-me. Elas estão prontas?


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Agora, ao longo do Verão, deixam curtos avisos que não são de desprezar. Facebook e Instagram.

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