Porque “derrete” a pista do aeroporto de Luton e não as estradas do Dubai?

A onda de calor no Reino Unido, que já fez cair recordes de temperatura, tem afectado também as infra-estruturas.

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A pista do aeroporto de Luton, um dos que servem a capital Londres, deu de si e deformou-se REUTERS/Peter Cziborra

Com as temperaturas a baterem recordes no Reino Unido, a pista do aeroporto de Luton, a 55 quilómetros da capital Londres, deu de si e deformou-se. Um comportamento pouco comum, mas possível graças à exposição solar directa, elevadas temperaturas e uma forte pressão provocada pelo peso dos aviões (ou, por exemplo, de camiões noutros contextos).

A explicação é dada pela ciência: o asfalto que colocamos nas nossas estradas é uma mistura de hidrocarbonetos cuja viscosidade diminui à medida que a temperatura aumenta. Na realidade, uma estrada não derrete, mas deforma-se e torna-se mais pegajosa com o calor. A deformação acontece particularmente quando as massas asfálticas atingem uma temperatura superior aos 50 graus Celsius. Com a acção da luz solar directa nem sequer é necessário que a temperatura do ar chegue aos 50ºC para que as estradas amoleçam, uma vez que o asfalto consegue com facilidade reter o calor.

Numa situação normal em que a estrada foi bem construída não há grandes problemas para o utilizador, mas as deformações podem acontecer graças à pressão de veículos pesados em vias onde que este tipo de tráfego é mais intenso, como acessos a zonas industriais, por exemplo.

Há várias soluções para evitar o amolecimento do asfalto: a imediata passa por espalhar um pó de granito, conhecido popularmente como pó de pedra, que tem a capacidade de estabilizar a estrada. Também há soluções de raiz, nomeadamente a aplicação de asfalto modificado laminado a quente (conhecido na indústria por HRA) que, no fundo, é uma mistura mais densa, combinada com areia, capaz de resistir a temperaturas mais elevadas. Com o HRA a deformação só começa a ser sentida quando o asfalto atinge os 80 graus Celsius.

No entanto, Howard Robinson, chefe-executivo da Associação de Manutenção de Superfícies Rodoviárias do Reino Unido, estima que menos de 5% das estradas britânicas tenham este tipo de asfalto. É por isso que esta onda de calor no Reino Unido pode ter efeitos na deformação das estradas que podem voltar ao normal quando as temperaturas caírem.

Nos países com temperaturas mais elevadas, como os Emirados Árabes Unidos, a massa asfáltica utilizada é à base de HRA e já vem preparada para resistir às elevadas temperaturas sem se deformar. Com as ondas de calor cada vez mais frequentes é expectável que haja a necessidade de adaptação da composição das estradas em cada vez mais geografias.

A onda de calor no Reino Unido já fez cair recordes de temperatura no território: os termómetros passaram na manhã desta terça-feira pela primeira vez os 40 graus.

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