Dos duches rápidos ao número de cafés que bebe por dia: saiba como poupar água

A recente onda de calor agravou a seca em Portugal. Para poupar água, o resumo é simples: fechar a torneira sempre que possível. Reunimos algumas dicas sobre como reduzir o consumo deste recurso na cozinha, na casa de banho, na alimentação e em espaços verdes.

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Cada pessoa precisa de 110 litros de água por dia, diz a ONU, mas cada português gasta 187 litros NEVIT DILMEN

A recente onda de calor que atinge Portugal, onde as temperaturas têm ultrapassado os 35 graus, está a agravar a seca que assola o país desde Fevereiro.

Se o problema persistir, é provável que em 2025 não exista água suficiente para que a produção agrícola alimente toda a população mundial, revela o Portal da Água. Portugal já está a ficar sem este recurso: os caudais dos rios, ribeiras e barragens estão a diminuir, numa altura em que o consumo de água essencial para se enfrentarem as altas temperaturas aumentou. Segundo as Nações Unidas, cada pessoa precisa de 110 litros de água por dia. Cada português, contudo, gasta 187 litros.

Como podemos poupar água? É possível encontrar alternativas para reduzir a utilização deste recurso? No início do ano, o PÚBLICO falou com a presidente da direcção nacional da Quercus, Alexandra Azevedo deixou um aviso: “Não basta poupar água quando ela já não existe ou quando já começa a escassear. O que temos de pensar é, no fundo, o que é que cada cidadão pode fazer para minimizar esse problema.” Agora, cinco meses depois, o alerta continua “mais actual do que nunca”. “Há países que já estão a tomar medidas e não estão com uma situação tão grave como a nossa”, explica.

Na cozinha

Fechar a torneira durante as lavagens (da loiça e das mãos)

É uma regra de ouro, e talvez das mais sugeridas quando o assunto é reduzir o consumo de água. Ao lavar a loiça à mão, abra a torneira apenas quando todos os utensílios estiverem ensaboados. Mas aqui também é importante reforçar: a torneira deve ser fechada sempre que pousarmos uma peça de loiça e passarmos à seguinte.

À semelhança da dica na lavagem da loiça, também ao lavar as mãos devemos seguir a mesma regra: fechar a torneira. Se não o fizer, pode gastar até 36 litros de água, revela a EPAL. Agora multiplique esse valor três vezes por dia, por semana e por mês.

Máquina de lavar? Só quando tiver a carga completa

Se, por outro lado, quiser lavar a loiça na máquina, ponha-a a trabalhar apenas quando tiver a carga completa e sem recorrer à pré-lavagem. A utilização da máquina de lavar a roupa pode e deve seguir a mesma regra. No momento da escolha de um electrodoméstico, esteja atento à etiqueta energética. Sempre que possível, opte pelos aparelhos que consomem menos energia.

Para quem já dispõe de um destes electrodomésticos, a alternativa é o programa ecológico, que em média poupa cerca de 25% de energia e 20% de água. É ainda recomendado que limpe os filtros com regularidade para manter a eficiência do aparelho.

Da mesma forma, se o seu esquentador antigo já só trabalha “no máximo”, lembre-se de que tem de gastar ainda mais água para arrefecer a água aquecida em excesso.

Fechar bem as torneiras e reparar as avariadas

Certificar-se que as torneiras estão bem fechadas e que não estão avariadas (ou a perder água) é uma dica importante.

Uma torneira a pingar de cinco em cinco segundos durante 24 horas pode gastar 30 litros de água por dia, o que corresponde a mais de dez mil litros de água por ano, segundo o Portal da Água.

Na casa de banho

Tomar duches rápidos

Opte por duches rápidos em vez dos banhos e nem pense em encher a banheira. De acordo com a Deco Proteste, no caso de uma família de quatro pessoas, “um duche de dez minutos pode implicar um gasto brutal de 12.600 litros de água por mês”. Por isso, cinco minutos com a água a correr talvez seja mais do que suficiente. É também importante não esquecer: a torneira deve ser fechada quando aplicamos champô ou sabonete.

Recolher e reutilizar a primeira água do duche

Colocar um balde para recolher a primeira água do duche até que esta fique quente é uma das soluções mais simples para poupar na factura mensal e rentabilizar o consumo. Armazene-a em garrafões e utilize-a posteriormente, por exemplo para lavar o chão, em descargas sanitárias ou para regar o jardim.

Fechar a torneira durante a lavagem dos dentes

Também ao lavar os dentes devemos seguir a mesma regra: fechar a torneira. Uma alternativa para poupar ainda mais durante a escovagem dos dentes é utilizar um copo de água.

Usar caixote do lixo

Lembre-se: a sanita não é um caixote do lixo onde depositamos papel higiénico, cotonetes, cabelos ou cotão. Ter um caixote na casa de banho evita descargas de água desnecessárias e problemas nas estações de tratamento de águas residuais (ETAR). Além disto, muitas das vezes os resíduos podem ser encaminhados através do seu sistema de canalização para locais que não têm capacidade para fazer uma triagem, aumentando a poluição ambiental.

Redutores de água e autoclismos

“Os autoclismos com dupla descarga são os mais poupados”, reforça a Deco. Se não tiver um destes, coloque uma garrafa com areia, um tijolo ou qualquer outro objecto que faça peso para que a descarga de água seja menor.

A poupança é de um a dois litros por descarga completa, explica a organização. Para quem quer soluções mais elaboradas, a solução passa por adquirir redutores de água que também podem ser utilizados em cilindros e esquentadores. Para as torneiras, opte pela instalação de um misturador de água quente e fria.

Na alimentação

Controlar os consumos

“O consumo de um simples café envolve um gasto de 140 litros de água, a produção de uma folha de papel necessita de dez litros de água e a produção de um litro de água engarrafada envolve três litros de água”, exemplifica a Zero. Não estamos a sugerir que deixe de beber café, mas sim que reduza a quantidade – em vez de dois ou três por dia, porque não apenas um?

Todos os produtos, desde têxteis, equipamentos tecnológicos, alimentos, entre muitos outros, “necessitam de água para a sua produção, pelo que, se reduzirmos o consumo desses produtos, estamos também a reduzir o nosso consumo de água”, afirma a organização.

Mais alimentos sazonais, menos carne

A agro-pecuária é o sector que mais contribui para o consumo de água e o primeiro passo passa pela alteração dos hábitos de consumo alimentares individuais. Consuma alimentos sazonais e de produção local e regional. Se estiver disponível para alterar a dieta, reduza o consumo de carne e peixe. “Desta forma estamos automaticamente a reduzir a nossa dependência de água para a produção de alimentos”, salienta a porta-voz da Quercus.

Reutilizar água que os animais não beberam

Com as temperaturas mais elevadas é ainda mais importante manter os animais de companhia hidratados. No entanto, se a água que der ao seu animal não for toda ingerida aproveite-a. Use a água que sobrar para regar plantas ou árvores.

Além disso, a melhor altura para regar as plantas (especialmente as exteriores) é nas horas de menor calor ou até mesmo durante a noite, quando a evaporação é menor.

Nos espaços verdes

Espaços (mais) naturais nas cidades

No caso das cidades, espaços verdes ou parques nunca são demais. As árvores são essenciais para absorver e filtrar a água, mas é preciso ter em conta o porte das plantas, privilegiando as mais pequenas e mais resistentes ao calor, como os sobreiros.

A Câmara de Lisboa já começou a substituir relvados por prados de sequeiro que não precisam de ser regados, como é o caso do Parque da Bela Vista – e poupa cerca de seis milhões de litros de água por ano, o equivalente a quase três piscinas olímpicas.

Reduzir o uso da mangueira

A mangueira é utilizada principalmente para três grande actividades: lavar o espaço exterior (como um quintal ou um terraço), lavar o carro e regar as plantas. Mas existem várias alternativas a este sistema, que pode gastar até 18 litros de água por minuto, divulga a EPAL. Para limpar o quintal pode usar-se uma vassoura e para lavar o carro, uma esponja e um balde. Sabia que lavar o seu veículo com mangueira pode gastar cerca de 500 litros de água?

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