Num dia mais calmo, morreu um piloto no combate aos fogos

O desastre desta sexta-feira, que provocou a primeira vítima mortal no combate aos incêndios desta semana, surge numa altura em que as chamas estavam a acalmar em Portugal continental.

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O alerta da queda do avião foi dado por volta das 20h Daniel Rocha

Um piloto que tentava apagar um incêndio na zona de Vila Nova de Foz Côa morreu esta sexta-feira ao perder o controlo do avião entre as localidades de Orgal e Castelo Melhor, por volta das 20h.

A aeronave – um anfíbio médio Fireboss – operava no teatro de operações do incêndio em Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, disse o comandante André Fernandes, na conferência de imprensa diária da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção e Civil (ANEPC). Foram enviados para o local meios dos bombeiros dos distritos da Guarda e de Bragança, elementos da Polícia Marítima, meios de busca e salvamento da Força Aérea e dois helicópteros, um do Instituto Nacional de Emergência Médica e outro da Protecção Civil. Desconhecem-se, para já, detalhes sobre as causas do acidente.

A vítima mortal trata-se do comandante André Serra, confirmou a Presidência da República, numa nota. “Será recordado pela sua coragem, bravura e dedicação ao serviço”. “Serviu Portugal” na Força Aérea. Segundo o Correio da Manhã, tinha 38 anos.​

O primeiro-ministro, António Costa, lamentou a morte através de uma publicação na rede social Twitter. “Foi com grande consternação que tomei conhecimento do falecimento do piloto que operava uma aeronave que caiu esta tarde no combate ao incêndio em Torre de Moncorvo”, escreveu.“A todos os operacionais que estão no terreno, transmito a minha solidariedade e agradecimento pelo empenho e dedicação no combate aos incêndios que têm fustigado o nosso país.” O Presidente da República falou numa “perda que nos choca a todos” e o Ministério da Administração Interna num “momento trágico”.

O desastre desta sexta-feira, que provocou a primeira vítima mortal no combate aos incêndios desta semana, surge numa altura em que as chamas estavam a acalmar em Portugal continental, depois de uma semana em que não deram tréguas. Nos últimos sete dias, 187 pessoas ficaram feridas (93 civis e 90 operacionais) e 865 pessoas foram retiradas das suas casas.

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Incêndio em Palmela terá consumido pelo menos 400 hectares Daniel Rocha

Só esta semana, os incêndios florestais consumiram mais de 25 mil hectares de floresta, elevando o total de área ardida em 2022 para mais de 39.550 hectares. Os dados, ainda provisórios, foram compilados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). É a maior área ardida desde 2017 – a 15 de Julho de 2017 tinham sido consumidos pelas chamas 74.340 hectares, após o incêndio de Pedrógão Grande, um dos maiores de sempre em Portugal.

Sexta-feira mais calma

Ainda assim, a situação no terreno esteve mais calma durante o dia desta sexta-feira. Ao começo da noite, por volta das 20h, havia oito fogos activos em território continental; à mesma hora de quinta-feira, havia 23 incêndios activos. No terreno, permaneciam mais de 2500 operacionais empenhados no combate às chamas (esta contagem inclui fogos activos, em fase de rescaldo e em estado de conclusão).

Quarta-feira mantém-se o dia com mais ignições registadas este ano. “Mantemos o dia 13 de Julho como o dia com mais ignições: 193”, avançou André Fernandes, em conferência de imprensa. Nesta sexta-feira, até às 20h, tinham-se registado 101 ignições.

“Devo reconhecer que até este momento o dia de hoje [sexta-feira] é o dia menos preocupante dos vários que temos vivido”, salientou, também, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao final da tarde. Falava aos jornalistas em Belém, antes do desastre em Foz Côa.

Fogos no Norte motivam preocupação

Ao começo da noite de sexta-feira, os fogos no Norte do país, nos distritos de Viana do Castelo, Porto, Bragança e Vila Real, eram os que motivavam maior preocupação junto da protecção civil.

Em Ponte da Barca, Viana do Castelo, as chamas continuam a destruir floresta no Parque Natural da Peneda-Gerês. O incêndio deflagrou na madrugada de terça-feira. Depois de ter estado controlado na tarde de quinta-feira, agravou-se, com 20 pessoas a serem evacuadas na aldeia de Froufe.

O concelho de Baião, no distrito do Porto, também continua a ser atingido por dois incêndios, com bombeiros que tentam impedir as chamas de alcançar as populações. Prova de que as chamas não vêem fronteiras, em Bragança, um incêndio que começou em Espanha está a ser combatido de ambos os lados da fronteira por operacionais portugueses e espanhóis.

Portugal permanece em situação de contingência até domingo, 17 de Julho. Em declarações aos jornalistas, esta sexta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a apelar à “atenção e à prevenção cívica dos portugueses” para evitar ignições desnecessárias durante o período de maior calor. O combate aos fogos, frisou, “é uma tarefa imparável” que tem a ver com o combate às chamas, mas também com a prevenção, e uma gestão florestal das áreas que podem vir a arder. “É uma tarefa que nunca está acabada”, salientou o Presidente, que deixou a promessa de visitar as localidades afectadas pelos fogos nos últimos dias.

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