Bombas continuam a deixar um rasto de morte e sofrimento pela Ucrânia

Ataque a uma cidade longe da primeira linha de batalha vem engrossar uma já longa lista de mortos e feridos civis nos cinco meses que já leva a guerra. A Leste, autoridades da parte ocupada de Zaporíjia querem organizar um referendo à anexação russa.

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O bombardeamento a Vinnitsia provocou dezenas de mortos e feridos Reuters/VALENTYN OGIRENKO

Os avanços territoriais de parte a parte têm sido limitados, mas nem por isso a guerra na Ucrânia deixa de arrastar o seu cortejo de morte constante. No mais recente balanço, de terça-feira, as Nações Unidas contabilizaram 5024 civis mortos e 6520 feridos desde o início da invasão, há quase cinco meses. Como sempre, a informação chega com a advertência de que é muito provável que “os números reais sejam consideravelmente mais elevados”.

A esta negra contabilidade somar-se-á pelo menos uma vintena de pessoas que morreram esta quinta-feira em Vinnitsia, uma cidade no centro do país que foi alvo de um bombardeamento russo a meio da manhã. As autoridades ucranianas confirmaram 22 mortos, mas ao fim da tarde havia ainda 39 desaparecidos e 34 feridos graves.

Entre as pessoas que morreram contam-se três crianças, de acordo com um membro da equipa presidencial, Kirilo Timoshenko, segundo o qual os mísseis que atingiram Vinnitsia foram disparados a partir de um submarino russo fundeado no mar Negro.

Um carrinho de bebé virado ao contrário destacava-se entre os destroços, labaredas e fumo negro num curto vídeo gravado logo a seguir ao ataque. Lá dentro estaria uma menina de três anos que terá morrido no bombardeamento. A mãe foi levada para o hospital com ferimentos graves.

“A Rússia comete mais um crime de guerra”, insurgiu-se o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, partilhando o vídeo no Twitter. “Vamos levar os criminosos de guerra russos a tribunal por todas as lágrimas e gotas de sangue ucranianas”, escreveu Dmitro Kuleba, que participou à distância numa reunião com ministros da Justiça e dos Negócios Estrangeiros de 45 países.

Realizado em Haia, sede do Tribunal Penal Internacional, o encontro destinou-se a coordenar os esforços de investigação e acusação de possíveis crimes de guerra cometidos pela Rússia em território ucraniano. O anfitrião era o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Países Baixos, Wopke Hoekstra, que numa entrevista ao jornal neerlandês Het Parool afirmou que a responsabilidade por eventuais crimes de guerra “começa no Kremlin”.

Semelhantes palavras usou Mikhailo Podoliak, o assessor que Volodymyr Zelensky encarregou de liderar as negociações de paz suspensas há vários meses. “A Rússia ataca cidades ucranianas pacíficas não por erro, mas de acordo com uma estratégia militar aprovada”, escreveu.

O Presidente da Ucrânia diria mesmo, num discurso ouvido em Haia, que “as instituições judiciais existentes não podem trazer todos os culpados perante a Justiça” e que “por isso, é necessário um tribunal especial para avaliar o crime da agressão russa contra a Ucrânia.” Para Zelensky, a Rússia “é um Estado assassino” e “um Estado terrorista”.

Referendo a Leste

Nesta quinta-feira também houve bombardeamentos na região de Mikolaiv, no Sul do país, que se mantém em mãos ucranianas apesar do assédio russo que dura há meses. Terão morrido quatro pessoas, denunciou o governador regional, Vitali Kim.

Mais para Leste, na região de Zaporíjia, que está em grande parte sob controlo russo, foi anunciado que haverá um referendo no Outono para decidir uma eventual anexação pela Rússia. “Recebi inúmeros pedidos de forças laborais, sindicatos e activistas públicos para que o estatuto da nossa região seja esclarecido o mais rapidamente possível”, disse Ievgeni Balitski, o governador nomeado pela Rússia, citado pela agência Tass.

Um referendo do mesmo tipo foi organizado na Crimeia em 2014 e a maioria das organizações internacionais não lhe reconheceu validade.

A Rússia tem vindo a tentar cimentar a sua autoridade política sobre os territórios ocupados, mas está a procurar alargar a sua influência a toda a Ucrânia. Na segunda-feira, Vladimir Putin assinou um decreto que permite a qualquer ucraniano pedir a cidadania russa desde que saiba falar russo e tenha um emprego. Até agora, o decreto abrangia apenas os residentes nas regiões separatistas de Donetsk e Lugansk e nas regiões ocupadas de Kherson e Zaporíjia.

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