O que devo fazer se estiver perto de um incêndio?

Perante um incêndio é importante “não ficar paralisado”. Se um incêndio estiver perto, o que se deve fazer? Deixar a habitação? O que levar e o que fazer aos animais? Ligar para o 112?

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“A alta temperatura e a irradiação da própria chama pode ser suficiente” para nos queimarmos, explica Duarte Caldeira Adriano Miranda

Portugal está novamente em chamas. Perante um incêndio – uma ocorrência que afecta o raciocínio e pode exigir grandes esforços de sobrevivência – que atitudes que se deve ter? Como agir?

O presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Protecção Civil (CEIPC) diz que é importante “não ficar paralisado e agir em conformidade”. Segundo Duarte Caldeira, “não é apenas em cima do fogo que nos queimamos”, já que “a alta temperatura e a irradiação da própria chama pode ser suficiente”.

Descomplicando a mensagem, diz Duarte Caldeira, “a pessoa deve agir tendo em conta a sua segurança e a sua limitação perante um inimigo cego e bruto”.

Um incêndio está perto. O que fazer?

Acima de tudo, é essencial “manter uma linha de comunicação” que evite ficar isolado da informação, refere o presidente do CEIPC. Esta linha de comunicação pode ser através da rádio, televisão ou através de modelos de organização local, como é o caso do programa Aldeia Segura, Pessoas Seguras (no qual os responsáveis avisam as pessoas e apoiam a retirada da população). Garantindo as comunicações, sabe o que está a acontecer na sua área e aumenta a sua segurança.

Existe ainda outro procedimento que Duarte Caldeira destaca: regar a área onde se encontra. Em função da distância a que o incêndio se encontra, se houver tempo, devem regar-se as paredes, o telhado e cerca de dez metros à volta da habitação onde em questão. “Se a zona estiver húmida, reduz mais a probabilidade de o incêndio afectar o local onde se encontra”, acrescenta Duarte Caldeira.

No entanto, o essencial é seguir as indicações das autoridades e do oficial de segurança local, sublinha o programa Aldeia Segura.

Mandaram-me retirar. Tenho de cumprir?

Sim. “A retirada de casa é sempre algo doloroso, mas, quando as autoridades o determinam, fazem-no porque há vidas em perigo. Não há bem maior do que a vida das pessoas”, diz Duarte Caldeira. Se a ordem de retirada não for acatada, as pessoas “dificultam uma parte da operação que, no fundo, é inevitável. Estão a pôr em risco as suas vidas e a comprometer uma operação de socorro.”

Depois de deixar a sua habitação (ou o sítio onde se encontra), deve esperar que as autoridades dêem a indicação de que pode regressar. Até lá, deve dirigir-se e permanecer no local de concentração definido pelas autoridades (e que lhe será indicado).

O que levar ao deixar a minha casa?

É importante que cada pessoa leve um kit de emergência. Neste, explica o programa Aldeia Segura, deve estar: medicação habitual, estojo de primeiros socorros, água e comida com validade longa, produtos de higiene pessoal, uma muda de roupa, dinheiro, lista de contactos de familiares e amigos, um rádio, uma lanterna e um apito.

Além disso, relembra Duarte Caldeira, não se esqueça do telemóvel e dos documentos. Todos os restantes bens devem ficar para trás.

O que faço aos animais de estimação ou de criação?

No que toca aos animais de estimação, “deve garantir, tal como garante a si próprio, a segurança e o bem-estar dos animais”, explica Duarte Caldeira.

Por sua vez, se tiver animais de criação, o melhor a fazer é libertá-los. “Se os animais de criação forem libertados têm uma capacidade de sobrevivência superior”, já que as suas acções são baseadas em instintos e têm medo do fogo, explica o presidente do CEIPC, que salvaguarda que alguns poderão ser atingidos e feridos pelo fogo na mesma.

Que roupa usar e como me proteger?

“Não convém ter vestuário em que tenha braços e outras zonas do corpo expostas à temperatura, e às chamas ainda pior”, explica. Por isso, “não é aconselhável usar mangas cavas”.

“A pessoa deve pensar que está numa situação de anormalidade e tem que ter raciocínios de autodefesa.” Neste caso, a autodefesa deve ser: “usar um vestuário leve, que cubra ao máximo as zonas do corpo que poderão estar mais expostas”, simplifica. Menos exposição garante maior protecção.

Duarte Caldeira acrescenta ainda: “um lenço embebido em água à volta do pescoço e da boca pode proteger as pessoas minimamente durante algum tempo”, já que a exposição “contínua e demorada àquela carga de fumo altamente tóxica é prejudicial à saúde”. No entanto, ressalva: o lenço (ou tecido) não pode ser inflamável – como o nylon.

Há um incêndio perto de mim. Ligo para o 112?

Depende.

Se estiver de carro na estrada e vir, ao longe, uma coluna de fumo ou fogo, deve ligar. “Vale mais a pena [para os serviços de urgência] ter mais informação do que informação em falta.” O procedimento deve ser: ligar para o 112 e tentar identificar o marco da estrada ou um ponto de referência para que ser socorrido mais facilmente.

Se estiver num aglomerado populacional e no local do incêndio já estiverem as autoridades competentes a actuar, significa que há uma operação em curso, explica Duarte Caldeira. Por esse motivo, não precisa de ligar para o 112.

Se estiver perante um incêndio num local sem autoridades competentes a actuar perante um incêndio, deve ligar para o 112. Mas também há outras opções. “Deve ligar para bombeiros, GNR, centro de saúde ou até a Junta de Freguesia.” O importante é avisar e pedir ajuda e deve ligar “mesmo que alguém já tenha ligado. Devemos agir em conformidade e não pensar se alguém já o fez”, diz.

Em último caso, “na medida das nossas possibilidades e em segurança, podemos e devemos avançar” e ajudar a apagar o fogo.

Devo tentar extinguir o fogo? Como?

Pode fazê-lo, mas apenas se não estiver numa situação de perigo, se possuir o vestuário adequado e se não atrapalhar o trabalho das autoridades responsáveis, refere a Aldeia Segura. Pode extinguir o fogo com pás, enxadas, ramos ou com o auxílio de mangueiras.

Crianças e idosos devem sair do local mais cedo?

“O acto de determinação de retirada das pessoas é consequência de uma avaliação das forças de protecção civil e significa que há um perigo iminente”, explica o presidente do CEIPC.

Por sua vez, a decisão de retirada “tem em conta, principalmente, a população mais vulnerável”, nomeadamente crianças e idosos. Isto porque “têm menor mobilidade e mais necessidade de apoio de terceiros”.

Idosos e crianças serão prioritários em caso de evacuação. No entanto, se quiserem abandonar a sua habitação antes do momento, podem fazê-lo.

Posso tentar evitar que um incêndio chegue à minha habitação?

Sim. Durante a época de menor risco de incêndio, de Outubro a Abril, devemos “garantir que, numa faixa envolvente do edificado, é eliminado todo o combustível que, em situação de incêndio, arda rápida e automaticamente”, diz Duarte Caldeira. Assim, é essencial que o terreno em volta da habitação esteja limpo, sem qualquer vegetação, já que quanto mais vegetação, maior o risco de incêndio e maior a dificuldade em lidar com este

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