A beleza não é lugar para cobardes

A beleza não é lugar para cobardes e tu habitas forte o poema, espaço interior incólume, limpo, talvez só totalmente acessível para os poetas, os artistas e as crianças. A beleza é como o amor, beleza só com coragem se paga, e tu sabes, Juan Carlos Mestre.

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Tu que acreditas nos poetas como os grandes legisladores do mundo, ordenando o indizível e o invisível, decretando-os leis universais. Tu que consideras que não há belo sem justiça, que a poesia é uma arma de delicadeza contra a barbárie e uma forma de resistência ao mal, sabes que beleza não é lugar para cobardes. Tu que te fazes acompanhar da lira como os poetas da Grécia Antiga, que sabes que o poema antes de ser objecto é som, é natureza, traços de tinta como na tela, tu que escreves contra a maré e que desprezas a cáfila que assalta agnósticos, poetas, judeus e borboletas, sabes que a beleza não é lugar para cobardes. Tu que não queres servir de lanterna nesta selva obscura nem incentivas as corridas de poetas-cavalos que tentam chegar à meta dos prémios, que dizes que o sucesso para um poeta é pior do que nada, que a poesia serve apenas para tomar consciência de algo que não existe, sabes que a beleza não é lugar para cobardes.

Tu que dizes que a poesia não é boa nem má, que o poeta é um vidente a falar com os mortos do futuro, que citas Keats a rematar entrevistas - “Não importa o saber, porque sabemos que não o temos” nem teremos saber algum, o que importa é a coragem -, sabes que a beleza não é lugar para cobardes. A beleza não é lugar para cobardes e tu habitas forte o poema, espaço interior incólume, limpo, talvez só totalmente acessível para os poetas, os artistas e as crianças. A beleza é como o amor, beleza só com coragem se paga, e tu sabes, Juan Carlos Mestre.

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