Arquidiocese de Évora afasta pároco por omissão de alegados abusos sexuais cometidos por catequista

Em causa estão alegados abusos sexuais a menores cometidos por um leigo, catequista e responsável pelos acólitos na paróquia de Samora Correia, mais do que uma vez.

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A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja já validou 352 testemunhos Nelson Garrido

A Arquidiocese de Évora informou, esta segunda-feira, que afastou preventivamente de todas as funções o padre de Samora Correia, em Benavente (Santarém), “até à conclusão dos procedimentos canónicos”. De acordo com o comunicado daquela entidade, publicado no site, a Arquidiocese abriu “uma averiguação interna ao sucedido para procurar que uma situação semelhante não se repita”.

Em causa estão alegados abusos sexuais a menores cometidos por um leigo, catequista e responsável pelos acólitos naquela paróquia, mais do que uma vez. A notícia é avançada esta terça-feira pelo Correio da Manhã (CM). “A Arquidiocese de Évora tomou conhecimento no passado dia 22 de Junho de 2022 da prática, por um colaborador leigo da Paróquia de Nossa Senhora da Oliveira, Samora Correia, de dois actos enquadráveis como possíveis abusos sexuais sobre dois menores, um ocorrido em 2020 e outro em 2021”, refere o comunicado.

Afirmando deplorar “esses factos gravíssimos” e expressando “aos menores, às famílias e às comunidades” a “sua dor profunda”, aquela entidade sublinha que “os factos estão já a ser objecto de apreciação judicial, que permitirá conhecer a totalidade do que aconteceu”. “A Arquidiocese colaborará com as autoridades civis em tudo o que for conveniente e respeitará as decisões da Justiça”, assegura.

No mesmo documento, a arquidiocese garante que “o pároco, que foi em ambos os casos imediatamente alertado por familiares de uma das vítimas, limitou as tarefas do suspeito mas sem êxito tornando, infelizmente, possível a reincidência”.

A nota de imprensa dá ainda conta de que “a Arquidiocese renova o compromisso de continuar este duro caminho de reconhecer a verdade, acompanhar as vítimas, colaborar com as autoridades, reforçar a prevenção. Tem consciência da responsabilidade que tem diante de Deus, diante dos menores, diante das famílias, diante das comunidades”.

De acordo com o CM, os casos de alegados abusos sexuais foram investigados pela Polícia Judiciária e o suspeito está actualmente em prisão preventiva. Contudo, a acusação do Ministério Público, que ficou concluída no mês passado, recai também sobre o pároco uma vez que terá sabido do sucedido e não comunicou os casos às autoridades. No entender do Ministério Público (MP), as acções do padre podem corresponder a um crime por omissão. O PÚBLICO pediu uma cópia da acusação ao MP mas ainda não a obteve.

Quando a Arquidiocese de Évora tomou conhecimento da prática dos supostos crimes, notificou “de imediato” a Comissão Diocesana para Protecção de Menores de forma a ultimar os encontros com os pais dos menores em causa, “os escutar, e oferecer-se para ajudar em tudo o que seja necessário”.

Na semana passada, um outro padre também foi suspenso de actividades pastorais pelo Patriarcado de Lisboa por troca de mensagens inapropriadas com jovens. O clérigo desempenhava funções de capelão no Colégio S. Tomás, da Quinta das Conchas, em Lisboa, o que não voltará a acontecer.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja já validou 352 testemunhos desde que foi criada, há seis meses, de acordo com o balanço divulgado no domingo. Dos testemunhos validados, 17 casos foram encaminhados para o Ministério Público, todos relativos a padres que ainda estavam em funções até à data do envio, confirmou Pedro Strecht, pedopsiquiatra e coordenador da comissão, em entrevista ao PÚBLICO.

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