Câmara recusa tourada em Vila do Conde mas promotor continua a vender bilhetes

A autarquia indeferiu o pedido de licença de espectáculo itinerante. Organizador diz não ter sido informado e admite seguir a via judicial. Duas manifestações anti-tourada estão marcadas para o dia do evento – 23 de Julho.

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Duas associações anti-tourada marcaram uma acção de protesto para o dia do evento Nuno Ferreira Monteiro

Na semana passada, a Associação Juntos Pelo Mundo Rural (AJPMR) e a empresa unipessoal Paulo Pessoa De Carvalho montaram uma praça de touros temporária num terreno privado de Ferreiró para a 23 de Julho poderem realizar uma corrida de touros nesta freguesia de Vila do Conde, com o intuito de assinalarem o encerramento, nos últimos anos, das arenas da Póvoa de Varzim e de Viana de Castelo. Outro motivo seria o de “recuperarem” a “tradição” tauromáquica no Norte do país. Só que, nesta terra de gente do mar que nunca teve uma praça de touros fixa, há mais de 70 anos que não se vêem toureiros - raramente foram vistos. E poderá não ser agora que voltarão a passar pelo município, que acusa os promotores de terem montado a estrutura sem aviso prévio. Esta segunda-feira, a autarquia indeferiu o pedido de licença de espectáculo itinerante feito pelos organizadores. Ou seja, a corrida de touros será cancelada, assegura a câmara. Mas os promotores do evento continuam a vender bilhetes.

“Em Vila do Conde não existe memória da existência deste tipo de espectáculos. Aqui não existe tradição tauromáquica. Para acompanhar os nossos princípios e valores não queremos touradas”, afirma ao PÚBLICO o presidente da câmara Vítor Costa. Porém, não foi este o motivo para o indeferimento do pedido da licença. O autarca socialista alega não existirem condições para o evento se realizar, por “violar normas legais e regulamentares” que se prendem com a localização da montagem da praça de touros.

Ouvidos os serviços camarários, concluiu-se não existir largura suficiente nas “vias envolventes” de acesso ao local para “estacionamento” ou para um veículo de emergência passar. A contribuir para este chumbo está também o facto de existirem obras nas imediações. O “estado de contingência de perigo de incêndios” também é motivo apresentado para a licença não ter sido atribuída, afirma. Duas manifestações anti-tourada marcadas para o dia do evento também influenciaram na hora de decidir. Para que haja garantias de que a corrida de touros não se realiza, a câmara contará com o apoio das “forças de segurança”.

Na semana passada, Vítor Costa tinha dado 48 horas para os promotores desmontarem a praça de touros amovível por não ter sido avisado da sua instalação. Mas a estrutura ainda continua lá.

E vai continuar a lá estar até ao dia do evento, garante Luís Gusmão, da AJPMR, que recusa a ideia de existir qualquer ilegalidade. “Foi montada num terreno rústico e privado e a sua segurança foi atestada por um técnico. Em nenhum momento a lei diz que o pedido de licenciamento tem de ser feito antes, durante ou após o evento. Não é nenhum edificado. É amovível”, alega.

Até ao final da tarde desta segunda-feira ainda não tinha sido avisado pela Câmara de Vila do Conde sobre o indeferimento do pedido de licença de espectáculo itinerante. “Até ser informado não vou comentar”, assinala. “Calmo e sereno”, continua a dizer que o evento vai realizar-se. “Os bilhetes continuam à venda e já está quase esgotado”, afirma.

O co-organizador da corrida diz ter licença do Inspecção-Geral Das Actividades Culturais – IGAC. Acredita ser o suficiente para avançar para o espectáculo e acusa o presidente da autarquia de estar a tomar uma “decisão política”. Em cima da mesa está avançar pela via judicial.

Duas associações anti-tourada – a Acção Directa e a Vila do Conde Animal Save (VCAS) - marcaram uma acção de protesto para o dia do evento. Mas há outras associações contra a realização da corrida, como por exemplo a Plataforma Basta de Touradas. Bela Silva, da VCAS, sublinha não existir qualquer tradição tauromáquica no concelho onde “raramente” existiram corridas de touros e sempre em espaços improvisados. Para a activista o evento foi marcado como forma de provocação pelo encerramento da arena de touros da cidade vizinha – Póvoa de Varzim - em 2019. O promotor rejeita: “Não há qualquer tipo de provocação”.

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