Enfermagem Comunitária e o futuro de Portugal

É essencial que se invista em profissionais capazes de diagnosticar como as nossas comunidades estão a ser capazes de lidar com o contexto de guerra(s) e o estado de stress peripandémico.

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Paulo Pimenta

Parece uma combinação improvável as expressões “Enfermagem Comunitária” e “o futuro de Portugal”. Contudo, depois de lerem com todos os sentidos esta reflexão vão perceber que não só não é improvável como também é imprescindível.

Em Portugal a Enfermagem Comunitária tem duas áreas de especialização reconhecidas pela Ordem dos Enfermeiros: a Enfermagem de Saúde Familiar e a Enfermagem de Saúde Comunitária e de Saúde Pública.

A primeira permite aos cidadãos usufruir de cuidados especializados de enfermagem ao longo do ciclo de vida, às suas famílias e a cada um dos membros da família. É um enfermeiro que em proximidade acompanha as pessoas desde que nascem até que morrem, diagnosticando e prescrevendo os melhores caminhos para garantir a saúde de todos.

A segunda possibilita o acesso a cuidados especializados de enfermagem focados nas comunidades e nas populações. Neste caso, o enfermeiro tem competências para promover o empoderamento comunitário (criar condições para as pessoas conseguirem criar soluções em conjunto aproveitando todos os recursos dos espaços onde vivem), a vigilância epidemiológica, nomeadamente dos diagnósticos de enfermagem (permitindo saber dados tão importantes como quantas pessoas com diabetes tem uma adequada gestão do regime terapêutico, evitando complicações associadas à doença), a gestão de programas e projetos (que garantam a resposta às necessidades da população portuguesa) e o planeamento em saúde (imprescindível para otimizar os investimentos públicos em saúde, pois os recursos são escassos e têm de ser bem geridos).

E o que têm então estas duas áreas de especialidade de tão relevantes para o futuro de Portugal? Vivemos atualmente um estado de transição global que exige um acompanhamento especializado de profissionais potenciadores de firmeza - enfermeiros:

- Um estado de guerra(s) que, no contexto daquela que tem sido mais mediática, tem proporcionado fenómenos de migração que exigem a promoção da inclusão e socialização intercultural, mas também tem potenciado ansiedade, comprometimento do sentido de esperança numa paz que não se vislumbra e numa crise económica que se desenha no horizonte.

- Um estado de stress peripandémico, considerando que os dois últimos anos foram vividos de uma forma intensa, com comprometimento do rendimento familiar de muitos portugueses, lutos comprometidos pela impossibilidade dos rituais fúnebres e interação social comprometida, nomeadamente nas crianças e jovens, por via da não frequência da escola.

É, por isso, essencial que se invista em profissionais capazes de diagnosticar como as nossas comunidades estão a ser capazes de lidar com esta transição, que recursos existem e como se podem planear ações de capacitação e empoderamento para se otimizarem os recursos. Neste caso é preciso investir em Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Comunitária e de Saúde Pública nas Unidades de Cuidados na Comunidade e nas Unidades de Saúde Pública.

Mas também é preciso investir em profissionais que consigam acompanhar e diagnosticar e otimizar em proximidade a saúde das pessoas e famílias. É, neste caso, preciso investir em Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Familiar, nas Unidades de Saúde Familiar ou Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados.

Cada cidadão e cada cidadã de Portugal deve saber da grande oportunidade que tem de usufruir destes cuidados e exigir o investimento nestes enfermeiros especialistas, pois o acesso a cuidados de saúde de qualidade é um direito constitucional. Convidam-se por cada um e cada uma a saber mais sobre estas especialidades e a ser voz para ter acesso a elas.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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