A quem interessam os rankings de escolas? O que informam? Que efeitos geram?

Os rankings interessam, sobretudo, a famílias que querem e podem escolher para os seus filhos o colégio ou a escola que mais condições oferece para que acedam, no ensino superior, ao curso desejado.

A publicação anual dos rankings de escolas, usando como critério classificações obtidas por alunos em exames nacionais, tem gerado, e creio continuará a gerar, efeitos muito diversos e, por vezes, até opostos entre si. Há quem leia os resultados dos rankings acreditando que estar no topo significa que a escola ou o colégio tem os melhores professores e dá a atenção devida à aprendizagem dos alunos. Do lado oposto, há quem considere que estar no topo dos rankings significa uma atenção exclusiva a processos de ensino focados nos conteúdos avaliados nos exames nacionais, e que ignoram aprendizagens de ordem pessoal e social relacionadas com competências de vivência num mundo diverso.

Claro que as posições face aos rankings não se esgotam nestes dois extremos, nem a atenção que lhes é dada está igualmente distribuída pela população portuguesa e pelos pais ou encarregados de educação de todos os alunos em idade escolar. Há mesmo quem não lhe dê importância, tal como não dá grande importância a algumas solicitações da escola pois os seus quotidianos exigem como foco a sobrevivência do dia a dia. Escolas frequentadas por estes alunos não são normalmente as que ocupam os topos dos rankings, apesar de terem muitas vezes professores empenhadíssimos em diagnósticos de pré-requisitos para conseguirem que os seus alunos aprendam e se motivem para o saber escolar.

É escusado repetir que, para muitas crianças e jovens, é só na educação escolar que acedem ao conhecimento socialmente valorizado e que, muitas vezes, pouca relação tem com o que experienciam na vida familiar e dos grupos sociais em que se incluem. Por isso, muitos dos professores destas escolas sentem uma enorme frustração quando conhecem, no ranking, o lugar da escola onde lecionam. Sentem que ele não está em linha com o esforço que realizaram. É essa frustração que muitas vezes está na origem destes professores tentarem conseguir vaga em escolas com outra população escolar, ou que desistam da profissão. Felizmente, há também os resistentes que aceitam como missão contribuir para a formação escolar, pessoal e social de alunos que têm na escola a sua única tábua de equilíbrio, apesar dos rankings o ignorarem.

Centrando-me nas três perguntas que selecionei para contruir este texto, direi que os rankings interessam, sobretudo, a famílias que querem e podem escolher para os seus filhos o colégio ou a escola que mais condições oferece para que acedam, no ensino superior, ao curso desejado.

Respondendo à segunda pergunta – o que é que os rankings informam? –, direi que informam precisamente o que acabei de enunciar, isto é, que o colégio ou escola é frequentado por alunos que valorizam o acesso ao conhecimento escolar e têm como prioridade obter boas classificações nos exames. Como é do conhecimento público, este esforço é muitas vezes apoiado pela existência de explicações que os alunos frequentam como se tratasse de um segundo horário escolar. Nas explicações o foco é treinar, treinar, treinar o que costuma sair nos exames.

Apesar disso, ainda há os bons exemplos em que a explicadora ou o explicador trabalha modos de aprendizagem, como há dias foi referido, neste mesmo jornal, por um aluno ao sair do exame de Matemática. Disse esse jovem: “… não gostava nada de Matemática até começar a ter explicações com um professor que me ajudou muito a perceber a matéria e os exercícios com facilidade”. Quem leu a resposta deste aluno provavelmente interrogou-se porque é que este procedimento não é generalizado. Em nome de muitos professores que conheço, digo que muitos deles o seguem. No entanto, quando o fazem, estão a trabalhar com grupos grandes de alunos, cada um com as suas características, e que interpretam ou valorizam o que é dito também de distintas maneiras. Servindo-me do conhecimento que tenho de escolas, refiro até que muitas escolas públicas oferecem aos seus alunos aulas suplementares, em concorrência com o mercado de explicações, que têm algum efeito nas condições de partida dos alunos que as frequentam. No entanto, e continuando com as interrogações, poder-se-á perguntar: então porque é que estas escolas públicas não estão no topo do ranking? Também a esta pergunta poderei responder com o que provavelmente alguns já responderam: porque no topo do ranking estão, privilegiadamente os colégios frequentados por alunos que, para além do que aprendem nos tempos escolares, e muitos deles nas explicações suplementares, aprendem com o que lhes é proporcionado pelo ambiente familiar e dos amigos.

Conheço casos que confirmam o que acabei de afirmar. Realço também, e para que não sejam diabolizados alguns dos colégios privados que têm ocupado, nos últimos anos, os lugares de topo dos rankings, que reconheço a qualidade dos projetos educativos que os caracterizam e a atenção dada a distintas aprendizagens, e não apenas aos conteúdos das provas de exame. Conheço alguns colégios que têm projetos e valorizam situações que contribuem para o desenvolvimento de competências de comunicação, de pensamento crítico, de colaboração e de atenção a problemas da vida e de outros. Apesar disso, há que reconhecer que, muitos destes alunos, para além do que aprendem no espaço escolar, têm o enorme apoio do que aprendem no ambiente familiar. Nestes casos, os rankings situam o que resulta do que os alunos mostraram saber, mas também do que aprenderam no ambiente familiar.

Em síntese, e tomando uma posição final, considero imensamente importante, mais do que os rankings, a divulgação do que de bom ocorre em muitas escolas e em muitos colégios. É essa divulgação que funciona como estímulo a que outas escolas e outros colégios a esses se juntem na concretização de boas práticas educativas.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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