Moção de censura ao Governo francês votada ao insucesso

Oposição de União Nacional e Os Republicanos à moção impede que ela tenha sucesso, mas permitirá às forças de esquerda reclamar que são a única oposição a Emmanuel Macron. Debate é na segunda-feira.

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A primeira-ministra Élisabeth Borne fez na quarta o seu discurso de política geral perante a Assembleia Reuters/BENOIT TESSIER

Pouco antes de Élisabeth Borne subir ao púlpito para fazer a sua primeira declaração política geral enquanto chefe do Governo francês, na quarta-feira, a esquerda cumpriu a ameaça que tinha feito no início da semana e entrou com uma moção de censura na Assembleia Nacional. Subscrita pelos quatro partidos que concorreram às legislativas sob a bandeira NUPES, a moção vai ser discutida na próxima segunda.

É muito improvável que a moção venha a ser aprovada, uma vez que a União Nacional e Os Republicanos vieram já declarar que não votarão a favor. E, sem estes deputados, os 151 eleitos de França Insubmissa, Verdes, socialistas e comunistas não são suficientes para se sobrepor à maioria que apoia Macron e Borne (250 deputados).

No entanto, o anunciado chumbo com os votos da direita e da extrema-direita não é necessariamente uma má notícia para a NUPES, que assim poderá intitular-se como única força política verdadeiramente de oposição.

No discurso de quarta-feira, Borne prometeu ser “uma infatigável construtora” de “maiorias de projecto”. Ou seja, a possibilidade de um pacto ou coligação de longa duração está definitivamente afastado e agora há que negociar texto a texto. Mas para que isso aconteça, argumentou a primeira-ministra, é preciso “um diálogo sustentado e uma procura activa de compromissos”. A mensagem é dirigida à oposição: “Diante de cada desafio, devemos perguntar-nos – queremos bloquear ou queremos construir? É em função disso que os franceses nos vão julgar?”, atirou.

À sua frente, porém, as bancadas da esquerda reagiram com vários protestos ao longo de todo o discurso e a líder parlamentar do França Insubmissa, Mathilde Pinot, acusou Borne de “escolher fugir” e de ter uma “estratégia de salve-se quem puder”. Os insubmissos reclamavam à primeira-ministra a apresentação de um voto de confiança, mas a líder do Governo optou por não o fazer.

À direita, Marine Le Pen disse que a manutenção de Borne como primeira-ministra era “uma provocação política” e depositou nas mãos de Emmanuel Macron todo o peso do sucesso ou insucesso das futuras negociações. “Se ele escolher a intransigência ou o desrespeito pelos nossos eleitores, terá de assumir a sua responsabilidade perante o país”, disse a líder da União Nacional.

Também Olivier Marleix, chefe de bancada d’Os Republicanos, declarou que o partido “nunca fará bloqueios estéreis”, mas não está disponível para “pequenos arranjos” de circunstância.

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