Redacção do Jornal de Barcelos demite-se em bloco e acusa vice-presidente da autarquia de pressões

Administração diz que objectivos financeiros não foram cumpridos. Director da publicação mais antiga do concelho diz que o jornal foi “silenciado” por fazer frente ao vice-presidente da autarquia.

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Jornal de Barcelos é o mais antigo do concelho minhoto Rui Oliveira

A redacção do Jornal de Barcelos demitiu-se em bloco, nesta quinta-feira, naquele que pode ser o ponto final da publicação mais antiga do concelho minhoto. O anúncio foi feito pelo director do jornal, Paulo Vila, que foi informado pela administração de que o jornal não iria para as bancas esta quinta-feira. O jornalista acusou o vice-presidente da Câmara Municipal de Barcelos, Domingos Pereira, de fazer pressões para que não fossem publicadas certas notícias.

“Não são de agora as pressões incessantes exercidas pelo vice-presidente da Câmara para que o Jornal de Barcelos não denunciasse o escândalo com a gestão de fundos comunitários em que se envolveram a ACIB e o seu presidente, João Albuquerque, entre outros pretensos defensores da moral e dos bons costumes, já depostos”, escreveu Paulo Vila numa publicação no Facebook.

Ao PÚBLICO, Domingos Pereira escusou-se de comentar a publicação e as acusações feitas por Paulo Vila. O jornalista, que dirige o jornal desde 2011, diz não saber se esta decisão pode significar um ponto final definitivo na publicação, explicando que todos os profissionais se uniram nesta decisão.

“Foram quatro jornalistas [a apresentar a demissão], sendo que um deles está em regime de prestação de serviços. É um colega que estava connosco e colaborava muito perto connosco. Neste momento, a redacção não tem ninguém”, explica.

Paulo Vila explica que a decisão de encerrar o jornal foi comunicada à redacção, mas que não há razões – dívidas ou outras questões – que justifiquem o encerramento da publicação. Uma versão que é contrariada por Carlos Pina, administrador na Cooperativa Barcelense de Cultura (CBC), que detém e financia o jornal. O responsável diz que o jornal não conseguiu atingir as metas financeiras definidas em 2011, detalhando que a situação económica chegou ao ponto de a publicação não ter “dinheiro para pagar a impressão”.

“Os objectivos eram fundamentalmente que os prejuízos não se estendessem de uma maneira que se tornasse impossível – chamar mais clientes e publicidade. Tudo isso era do conhecimento do director do jornal e outros accionistas. Verificaram-se que esses objectivos não tinham sido atingidos”, começa por dizer Carlos Pina, que nega qualquer ligação do encerramento do jornal às notícias sobre Domingos Pereira.

Para o agora ex-director do jornal, a decisão da administração prende-se fundamentalmente com o jornalismo feito pelo Jornal de Barcelos. Domingos Pereira foi condenado, em Maio, pelo Tribunal de Braga, a dois anos e dez meses de prisão, com pena suspensa, por ter alegadamente recebido dez mil euros em troca de um emprego no município. O vice-presidente recorreu da decisão e aguarda agora uma decisão de segunda instância.

“O jornal tomou uma posição, dizendo que a permanência de uma pessoa condenada por corrupção tem de ter consequências políticas. Quando nos foi comunicada a intenção de fechar o jornal achámos muito precipitado. Temos as nossas fontes, como é óbvio, e isto é muito claro: tentaram silenciar o Jornal de Barcelos porque esta linha editorial não agrada ao vice-presidente e chegámos a este ponto”, finaliza Paulo Vila.

O Jornal de Barcelos tem mais de sete décadas. É a publicação mais antiga do concelho e é actualmente detido pela Cooperativa Barcelense de Cultura, tendo sido premiado com o Prémio Gazeta na categoria de Imprensa Regional em 2011.

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