Recital de Wout van Aert abana Pogacar na Volta a França

À quarta foi de vez para Wout van Aert, depois de três segundos lugares nas três primeiras etapas do Tour. Jasper Philipsen ficou em segundo lugar e celebrou-o como se de uma vitória se tratasse, porque não sabia que van Aert já tinha vencido a etapa.

Foto
EPA/GUILLAUME HORCAJUELO

Wout van Aert (Jumbo) venceu nesta terça-feira a etapa 5 da Volta a França. O ciclista belga triunfou isolado numa etapa que parecia ser mais uma de marasmo, mas que acabou por testar o campeão Tadej Pogacar nos quilómetros finais.

Na última subida do dia, numa escalada curta e suave, a Jumbo explodiu para um ataque surpresa e deixou Pogacar para trás – o esloveno, uma vez mais, não tinha nenhum colega consigo, ao contrário dos blocos da Jumbo e da INEOS. E voltam a adensar-se as dúvidas sobre a capacidade da Emirates em ajudar o líder, que já em 2021 venceu “sozinho”.

O ataque da Jumbo deixou até o próprio Primoz Roglic em dificuldade, ficando a indicação, ainda longe de confirmada, de que o esloveno está menos forte do que o n.º2 da Jumbo, Jonas Vingegaard – algo também já sugerido pelo Paris-Nice.

Pouco importado com o colega Roglic estava van Aert, que seguiu a sua vida. Não só pôde fazer cerca de dez quilómetros sem qualquer réplica e vencer isolado na meta como somou pontos valiosos na luta pela camisola verde. A poucos segundos chegou um pelotão encabeçado por Jasper Philipsen, que celebrou o segundo lugar como se de uma vitória se tratasse. E para o belga tratava-se disso mesmo, já que assumiu não saber que van Aert... já tinha vencido a etapa.

Na classificação geral a etapa nada alterou, até porque Pogacar, Roglic e os demais favoritos acabaram por juntar-se num pelotão. Van Aert mantém-se de camisola amarela, agora com 25 segundos de vantagem para Yves Lampaert e 32 para Pogacar.

Etapa calma

Nos 171 quilómetros até Calais a etapa foi globalmente aborrecida, como já foram as anteriores. A falta de vento lateral forte tem trocado as voltas aos organizadores da corrida, que tinham planeado tiradas sem subidas duras, mas em terrenos férteis para bordures. A única amostra disso foi um corte momentâneo que deixou Mathieu van der Poel no segundo pelotão, com a companhia dos dois do costume neste tipo de cortes: Guillaume Martin e Thibaut Pinot, frequentemente “caçados” em bordures.

Na frente a fuga foi levada a cabo por Anthony Perez e, claro, Magnus Cort. O dinamarquês tem sido o grande animador da corrida, arrebatando todos os pontos da montanha até agora. E prolongou o registo.

Com mais quatro pontos, leva 11 em 11 neste Tour e bateu o recorde de Federico Bahamontès, que tinha somado sete consecutivos em 1958 – ainda que o tenha feito com o mérito adicional de ter sido em terrenos vincadamente montanhosos dos Pirenéus.

Cort e Perez chegaram a ter mais de seis minutos de vantagem para o pelotão, mas todos sabiam – na estrada, nos carros ou em casa – que seria uma questão de tempo até serem “engolidos”.

Até porque Cort não queria a etapa. Assim que somou o último ponto da montanha, o dinamarquês colocou-se “a pé”, foi descansar e deixou Perez sozinho na frente – e o gaulês foi neutralizado a 15 quilómetros do final.

Nesta fase havia vários cenários. Os ciclistas tinham de enfrentar uma última subida, mas, tal como as anteriores, não parecia dura o suficiente para deixar para trás os sprinters mais pesados e incapazes de passar pequenas elevações. Dependeria, mais do que da subida em si, da forma como essa fase da corrida fosse atacada e do ritmo colocado pela frente do pelotão.

E esta seria a diferença entre ter Jakobsen e Groenwegen a sprintarem ou haver espaço para velocistas mais versáteis como Wout van Aert (que já tinha dito querer vencer de camisola amarela), Caleb Ewan, Peter Sagan, Mads Pedersen, Mathieu van der Poel, Michael Matthews ou até mesmo o aniversariante Alexander Kristoff. E foi nesta fase que a Jumbo explodiu na frente e permitiu a Van Aert vencer pela primeira vez no Tour 2022, depois de três segundos lugares.

Os portugueses Nélson Oliveira e Rúben Guerreiro chegaram integrados no pelotão e tiveram um dia tranquilo.

Para esta quarta-feira está agendada uma etapa presumivelmente mais animada. Entre Lille e Arenberg, os ciclistas terão uma réplica do Paris-Roubaix. Ao estilo do “Inferno do Norte”, o pelotão vai ter muitos sectores de terra batida e pavé, numa etapa em que os “voltistas” apenas tentarão sobreviver.

Para viver, mais do que apenas sobreviver, estarão outros. Mathieu van der Poel e Wout van Aert terão mais um duelo ao estilo clássica, mas com concorrência de peso em nomes como Tom Pidcock, Sagan, Pedersen, Lampaert, John Degenkolb, Jasper Stuyven ou Matej Mohoric, o “mestre das descidas”.

Sugerir correcção
Comentar