Faltam professores, não faltam vagas para professores

No dia após o anúncio de não um, mas dois aeroportos, por parte do ministro Pedro Nuno Santos, pergunto-me que prioridades têm os governantes para o país. Para a educação e saúde, nunca há dinheiro; para tudo o resto, arranja-se sempre.

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No final do ano passado, o próprio Ministério da Educação diagnosticou a necessidade de se contratar 34 mil professores até 2030 Nelson Garrido (arquivo)

No passado dia 30, soubemos pela imprensa que o Governo havia dado indicações às universidades para aumentarem vagas de formação de professores.

Leu-se na notícia que as indicações foram no sentido de aumentarem as vagas nas licenciaturas em Educação Básica, que, como se sabe, são obrigatórias para quem quer ser professor do 1.º e 2.º ciclos do ensino básico.

Percebo que, mais uma vez, o Governo queira enganar os mais incautos, mas não posso admitir que ninguém confronte a estratégia e a identifique como sendo errada para combater a falta de professores.

Como se sabe, no final do ano passado, o próprio Ministério da Educação diagnosticou a necessidade de se contratar 34 mil professores até 2030. Nesse diagnóstico, ficou evidente que, do lado das instituições de ensino superior, a capacidade existia, isto é, elas têm anualmente autorização para abrir 4200 vagas nos mestrados que garantem a profissionalização para a docência, mas na realidade formam cerca de metade. Percebe-se, por conseguinte, que o grande problema está em atrair os estudantes.

Perante este cenário o que faz o Governo? Abre mais vagas. Se isto não é hilariante, já não sei o que será!

No dia após o anúncio de não um, mas dois aeroportos, por parte do ministro Pedro Nuno Santos, pergunto-me que prioridades têm os governantes para o país. Para a educação e saúde, nunca há dinheiro; para tudo o resto, arranja-se sempre.

Tem sido escrito, por muitos daqueles que conhecem a realidade fora dos gabinetes, que a solução para mitigar a falta de professores passa, quase única e exclusivamente, pela valorização da profissão. Aliás, a esse mesma conclusão chegaram os responsáveis do ensino superior dizendo que “só mexidas na carreira podem tornar a profissão atrativa”. Logicamente!

Se juntarmos a esta decisão, de abrir vagas, algumas outras ações, tais como: a perseguição aos professores doentes, a perseguição aos professores em mobilidade estatutária ou qualquer outra, a persistência em não repor justiça na situação de monodocência, agravando-a até com um calendário mais alargado para o pré-escolar e primeiro ciclo, a campanha falaciosa relativa às remunerações dos docentes, a não revisão do Estatuto da Carreira Docente e eliminação das quotas na progressão, então temos tudo para continuar a debandada de muitos e o afastamento de futuros candidatos.

Será este o caminho? Creio que não, mas pode ser estratégico para baixar finalmente a fasquia dos requisitos para a docência, que parece ser o objetivo final.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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