Oceanos

Um bebé de plástico, uma sereia e tubarões: a marcha dos oceanos saiu à rua

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Lídia Nascimento tem ao colo um bebé com olhos feitos com plásticos recolhidos nas praias de Santa Cruz. "A plastic Mary representa o infeliz futuro dos bebés das próximas gerações se não fizermos nada em relação ao oceano". Na mão um biberão com pequenos pedaços de plástico misturados com água. "É isto que estamos a dar aos animais marinhos e nós também já temos microplásticos no sangue, está provado". 

Juntamente com o marido, Lídia criou o projecto Mar à Deriva, com o qual organizam recolhas de lixo nas praias. À Marcha Azul pelos Oceanos associaram-se mais de 60 organizações nacionais e internacionais, e muitos cidadãos individuais. Cerca de 500 pessoas partiram da Gare do Oriente com destino à Avenida do Índico, uma das artérias laterais com vista para o Altice Arena, palco da conferência da ONU sobre os Oceanos.

"O protagonismo dos oceanos está a chegar a casa das pessoas que não têm tão presente o papel fundamental que o oceano tem, não só no bem-estar mas também nas questões ambientais", acredita Maria Santos, 28 anos, analista de políticas públicas na Associação ambientalista ZERO. "Estamos a ver uma onda positiva de mudança nesse sentido."

Lisa Marques, designer e artista, vestiu-se de sereia, num fato feito com cordas e redes de pesca recolhidas em Peniche. "Demorou 15 dias a fazer. Tento dar a minha voz ao oceano, enquanto surfista também. Sinto que pertenço ao mar e à terra", diz, "e por isso sinto-me um pouco responsável por trazer os problemas do mar para terra". 

Do mar vieram também os tubarões, ou melhor, membros do SEI - Sharks Educational Institute, uma associação de educação ambiental marinha de Oeiras. "Ao contrário do que se diz os tubarões não são os mauzões dos oceanos, são os guardiões dos oceanos. Temos de os proteger e não cortar-lhes as barbatanas para fazer sopa", explica Manuela Martins, do SEI. 

A marcha teve por base um manifesto que reclama, entre outras medidas, a recuperação dos ecossistemas marinhos, o fim de todas as isenções e subsídios à pesca não sustentável e para combustíveis fósseis e ainda a proibição de novas explorações de petróleo e gás offshore. Muitos cartazes reforçaram também a exigência de uma moratória sobre a exploração mineira nos fundos marinhos.