Costa desconhecia despacho e diz que não levará solução fechada para conversa com Montenegro

O primeiro-ministro garantiu que “o erro grave” foi “ultrapassado” e perdoado, uma vez que o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, “não agiu de má-fé”.

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O primeiro-ministro disse que o erro de Pedro Nuno Santos foi "humildemente assumido" e que está resolvido LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Menos de 24 horas depois de Pedro Nuno Santos anunciar a decisão sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa, o primeiro-ministro revogou o despacho, perdoou o “erro grave” do seu ministro e reiterou que a solução para o aeroporto ainda se encontra totalmente em aberto – e pode até ser apresentada pelo novo líder do PSD, Luís Montenegro.

Foi depois de uma conversa de 40 minutos com o ministro das Infra-estruturas, em São Bento, que António Costa falou sobre o “erro grave” de Pedro Nuno Santos. Porém, a “humildade” de Pedro Nuno Santos e a convicção de que "não agiu de má-fé” fez com que a questão fosse “ultrapassada”.

Em declarações aos jornalistas no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, António Costa afirmou não ter sido informado do teor do despacho publicado pelo Ministério das Infra-estruturas e justificou a demora da sua reacção com a sua presença na cimeira da NATO, em Madrid, da qual apenas regressou ao início desta tarde.

“Claro que não sabia da existência daquele despacho. O despacho já não existe e está tudo reencaminhado para uma direcção da qual nunca nos deveríamos ter desviado”, disse. “Tendo sido definido pelo Governo que o principal partido da oposição seria ouvido sobre o novo aeroporto, ninguém toma uma decisão a dois dias de entrar em funções o novo líder do PSD [Luís Montenegro]. Agora é preciso acalmar tudo”, considerou.

O futuro do novo aeroporto

Quanto ao futuro do novo aeroporto de Lisboa, fica tudo em aberto. O primeiro-ministro reafirmou que não haverá apenas uma proposta em cima da mesa de negociações com o PSD e admite até que possa ser o líder eleito dos sociais-democratas, Luís Montenegro, a apresentar “uma nova ideia que nunca tinha sido pensada”. “Da nossa parte, estamos de espírito aberto”, garantiu Costa.

"Não há o aeroporto do PS, o aeroporto do PCP ou do PSD. Haverá um aeroporto internacional que servirá a região de Lisboa e o conjunto do país, razão pela qual tem de obter o maior consenso possível”, argumentou. “A orientação é a de que temos de trabalhar para encontrar um consenso nacional, designadamente com os partidos da oposição e, em particular, com o PSD, para termos uma decisão sólida dos pontos de vista político, ambiental, económico e técnico”, completou.

“Depois de esta poeira assentar, espero que possamos serenamente dialogar para bem do país, tendo em vista encontrar uma solução estável para um problema nacional”, afirmou, atirando as negociações com o novo líder para um momento “oportuno”.

"Até os políticos são humanos"

À insistência dos jornalistas sobre qual foi a explicação apresentada pelo ministro das Infra-estruturas, o primeiro-ministro respondeu apenas que o assunto tinha sido “esclarecido”. “Conheço há muitos anos o senhor ministro das Infra-estruturas e há quase sete anos que trabalhamos no Governo. Tivemos uma conversa franca, e, para mim, muito esclarecedora, e [Pedro Nuno Santos] teve a humildade de admitir o erro”, afirmou o líder do executivo. “Até os políticos são humanos. O mais importante é quando os erros ocorrem, os corrigirem. O ministro está completamente solidário com a orientação decidida por mim”, assegurou.

Ainda assim, houve espaço para alguns avisos. “Os governos têm de agir de uma forma unida, têm de respeitar a sua colegialidade”, disse, reiterando ideias já presentes no comunicado em que torna pública a revogação do despacho do Ministério das Infra-estruturas. “Todos os ministros têm competências próprias, mas, obviamente, há matérias sobre as quais as decisões não podem ser tomadas individualmente pelo ministro A ou pelo ministro B. Têm de ser decisões colegiais ao nível do Governo”, vincou.

Tal como fez Pedro Nuno Santos na sua declaração sem direito a perguntas, também António Costa invocou a relação de “quase sete anos” com o ministro para reafirmar a sua confiança no ministro e na sua continuidade no executivo. “Agora é seguir em frente”, diria Costa.

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