“Ele fez o seu trabalho.” Marcos Jr. toma posse e elogia o pai, antigo ditador filipino

Mais de três décadas depois, a infame família Marcos regressa ao poder nas Filipinas. O novo Presidente pede aos compatriotas para não terem medo.

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Marcos Jr. tomou posse ao lado da mãe, Imelda Marcos, como novo Presidente das Filipinas ELOISA LOPEZ / Reuters

Foi com elogios ao legado do pai e antigo ditador que Ferdinand Marcos Jr. tomou posse como Presidente das Filipinas esta quinta-feira, depois da vitória esmagadora nas eleições do mês passado.

No seu discurso de tomada de posse, Marcos Jr. pediu aos filipinos para que “não tenham medo” e garantiu que não irá desapontá-los. Ao lado da família, incluindo a mãe, Imelda, de 92 anos, que se tornou um ícone da exploração e da corrupção liderada pelo pai Ferdinand Marcos, durante as duas décadas em que esteve no poder, o novo Presidente disse não estar ali para falar do passado, mas sim do futuro.

Ainda assim, Marcos Jr. não resistiu a evocar o papel do pai, tal como já tinha feito durante a campanha eleitoral que lhe deu a vitória. “Uma vez conheci um homem que viu o pouco que tinha sido alcançado desde a independência numa terra de pessoas com maior potencial para o sucesso”, começou por dizer o novo Presidente.

“Mesmo assim, eram pobres. Mas ele fez o seu trabalho, algumas vezes precisando de ajuda, outras vezes sem. E assim será com o seu filho. Não vão ouvir desculpas da minha parte”, afirmou Marcos Jr.

Pouco se sabe acerca dos planos do novo Presidente, conhecido como ‘Bongbong’, para o seu mandato que agora se inicia. Foram raras as entrevistas que concedeu e na campanha apenas deixou promessas vagas de unidade e de recuperação da economia na sequência do impacto da pandemia no país asiático.

Uma das primeiras decisões de Marcos Jr. foi a inclusão do pelouro da Agricultura nas funções presidenciais. O ex-senador e ex-governador prometeu combater a inflação e aumentar a produção alimentar das Filipinas, enquanto tem afirmado que pretende lutar pelas reivindicações territoriais do país no Mar do Sul, contrariando as ambições da China naquela região. Uma das incógnitas da governação de Marcos Jr. é a forma como irá lidar com a oposição ou com temas como a liberdade de imprensa, que sofreu um forte abalo nas Filipinas nos últimos anos. Na véspera da tomada de posse, o site de notícias fundado pela jornalista Maria Ressa, galardoada com o Prémio Nobel da Paz em 2021, foi encerrado por ordem das autoridades nacionais.

A campanha de Marcos Jr. ficou marcada por um constante recurso ao legado do pai, caracterizado como uma época de prosperidade e mais segurança nas Filipinas, ignorando a imposição da lei marcial durante vários anos e os inúmeros abusos de direitos humanos cometidos pelo regime.

Milhares de opositores de Marcos foram presos, torturados e mortos durante as duas décadas em que se manteve no poder a partir de 1965. O ditador e a sua família enriqueceram durante esse período às custas dos cofres públicos. Uma revolta em 1986 forçou Marcos, a mulher e os filhos, incluindo Marcos Jr, a exilarem-se no Havai.

Durante a cerimónia de tomada de posse, que obrigou à mobilização de mais de 15 mil elementos das forças de segurança, um grupo de sobreviventes e familiares de opositores presos e mortos pelo regime de Marcos juntou-se para assinalar a memória histórica da ditadura. Prometeram lutar “contra a tirania, as falsidades e o esmagamento dos direitos e liberdades do povo”, cita o Guardian.

Marcos Jr. sucede a Rodrigo Duterte, que se notabilizou e ganhou enorme popularidade através da sua governação pouco ortodoxa, que desafiava constantemente as fronteiras entre a democracia e o autoritarismo. Para além das constantes declarações incendiárias contra adversários políticos e outros líderes mundiais, Duterte lançou uma impiedosa guerra contra as drogas, encorajando execuções extrajudiciais e até esquadrões da morte responsáveis por milhares de mortes. Apesar de sair do poder, pode manter alguma influência através da filha, Sara Duterte, que foi eleita vice-Presidente.

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