Em Guimarães, está a nascer um edifício em tempo record que pode ser reciclado

Esta técnica de construção, que recorre a mais madeira do que betão, permite uma redução de 60% das emissões, 70% de resíduos e mais de 50% da poluição sonora em relação aos convencionais

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Esta é a evolução do edifício ao quinto dia de construção DR

Há pouco mais de dez dias, em Guimarães, junto ao pólo de Azurém da Universidade do Minho, avistava-se um estaleiro, indiciador de que ali iria nascer uma obra. Cumprindo os prazos habituais, demorar-se-iam meses até se vislumbrar sequer um esboço de um edifício. Mas agora, circulando pela rua Rómulo Carvalho, um vislumbre sobre o horizonte do mesmo estaleiro sugere uma sensação de espanto: já lá se vislumbra um edifício pronto, de seis pisos, com a instalação de lajes e fachadas.

É o resultado de uma construção híbrida, da autoria do grupo de construção Casais, inédita no país, que utiliza um sistema, sustentado em lajes pré-fabricadas que cruzam betão e madeira, que permite acrescentar um piso a cada dois dias. “Numa semana e meia consegui fechar o edifício. Se fosse uma construção tradicional demorava entre dois e três meses. É um sistema de ligações flexíveis, que possibilita uma montagem rápida, com lajes que têm muito menos betão e que libertam muito menos dióxido de carbono”, diz ao PÚBLICO o director de obra, André Costa.

Segundo o grupo, que tem sede em Braga, a combinação de betão e madeira nos materiais pré-fabricados possibilita uma redução de 60% das emissões, 70% de resíduos, e da poluição sonora em mais de 50%, além de reduzir em metade os prazos de execução em comparação com o tradicional. “Numa construção tradicional temos muitas dificuldades porque há necessidade de sustentar escoramentos e de assentar as alvenarias, o que demora bastante tempo. Aqui, através da assemblagem dos materiais, ficamos logo com o edifício fechado e pronto a receber os acabamentos”, explica André Costa.

Para o lugar, está previsto um complexo habitacional de 10 mil metros quadrados que vai incorporar um hotel de três estrelas com 95 quartos (com 17 metros quadrados cada), um edifício com 44 estúdios para arrendamento a estudantes, e um espaço comercial. O estaleiro foi montado em Fevereiro deste ano e, no passado dia 20 de Junho, arrancou a acoplação dos materiais na empreitada. A previsão é que os dois edifícios fiquem prontos a habitar no final do presente ano. O prazo até podia ser menor, não fossem dois dos seis pisos de ambos os edifícios estarem a ser construídos só em betão, tal e qual a construção convencional. Para Miguel Costa, a mescla entre os dois pisos e os restantes é a ilustração perfeita entre aquilo que é o passado e aquilo que deve ser o futuro da construção. “Nos dois pisos de baixo vê-se betão e tijolos. É o passado. Em cima não. Há menos resíduos e é sustentável. Há uns anos falava-se dos carros eléctricos, agora tem de se falar de construção sustentável”, assinala.

Também no interior, os materiais utilizados podem ser reaproveitados. “Não há argamassa, as paredes serão todas de gesso cartonado, o que permite a sua flexibilização e mobilidade do próprio espaço. A desmontagem aqui passa só por desaparafusar”. As lajes em madeira e com menos betão e gesso cartonado traduzem-se no benefício para o ambiente no imediato, mas também no futuro. “Este edifício, tal como os tradicionais, pode durar mais de 50 anos. A diferença é que este, no fim, pode ser todo reaproveitado”.

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O investimento previsto é de 11 milhões de euros. Por ser um edifício protótipo, ainda não é claro se o custo compensa em relação ao modelo tradicional de construção. Se é certo que a “estrutura é mais cara”, também é verdade que esta será uma obra feita “em dez meses em vez de 14”, sublinha o responsável. “Com menos meses, há menos tempo em estaleiro e menos equipa. Também o hotel, a partir do momento em que começa a funcionar, obtém mais quatro meses de renda adicionais”.

Pré-construção e assemblagem permitem fintar falta de mão-de-obra

Numa altura em que o sector da construção civil debate-se com uma crise de angariação de mão-de-obra, o sistema proposto pela Casais traz também benefícios. No edifício estão actualmente seis trabalhadores, “em vez dos 20, que são normalmente necessários nestas obras”, diz Miguel Costa. E acrescenta: “Nos nossos pavilhões, onde montamos os pré-fabricados para o edifício, conseguimos angariar mão-de-obra que está disponível a trabalhar num espaço fechado, não sujeito a intempéries. A produção é muito superior”.

Além dos materiais exteriores, os edifícios também vão incluir casas de banho pré-fabricadas e duas delas estão já instaladas no segundo piso do futuro hotel.

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