Afinal, o que ficou da pandemia?

A necessidade de abordar as necessidades ao nível de saúde mental dos alunos, mais do que isso, de dar respostas mais eficazes e céleres, é uma realidade que foi aumentada pelo uso das tecnologias e do isolamento social.

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Paulo Pimenta/Arquivo

Este ano em que voltamos ao ensino presencial, o que nos trouxe afinal o novo normal? Que realidade de ensino aprendizagem depois de dois anos lectivos com confinamentos prolongados, o que nos foi devolvido este ano? Terá a exigência sido menor, uma vez que muitos alunos e professores estiveram entre cá e lá, que é como quem diz entre a escola e oito dias de confinamento com covid-19? Algumas escolas reformularam os critérios de avaliação e adoptaram novos instrumentos de avaliação. Terão tido a eficácia que se pretendia?

Os exames nacionais do ensino secundário começam já a 17 deste mês. Mantém-se a realização dos exames só para efeitos de acesso ao ensino superior ou para melhoria da nota interna. Antes da pandemia, a realização dos exames nacionais era obrigatória e a nota obtida entrava para a nota final da respectiva disciplina. A pandemia foi o motor de alguma mudança neste sistema que funciona tão bem do ponto de vista matemático, será que com as devidas reflexões e análises foi, sem se dar conta, o início da alteração do acesso ao ensino superior?

E nos outros anos da escolaridade obrigatória, o que mudou e o que se manteve? A flexibilidade do ensino tornou-se mais real e palpável, com aceitação de imprevistos, considerados, novos desafios, por parte de alunos, professores e pais; como seja por exemplo, as ausências de professores e de alunos durante o período de uma semana devido à infecção por covid-19, a alteração das avaliações que estavam agendadas terem que ser feitas noutros dias, horas e com colegas diferentes, de outras turmas, a própria avaliação ser feita com uma diversidade de instrumentos maior e a ponderação dos mesmos para a classificação final a atribuir à disciplina ter sofrido também alterações face àquilo que era a rigidez do sistema antes da pandemia.

Ou seja, existiu uma rapidez de resposta a cada problema que surgia, que longe de ser uma resposta perfeita, era a possível, que acrescentava valor face à alternativa de nada fazer ou esperar que se fizesse como em 2019. Esta agilidade do sistema e a entrega de resposta atempada foi uma realidade que cada escola foi ajustando às suas possibilidades reais, quer sejam de ordem social ou económica. A resposta perfeita e com o máximo potencial foi preterida, pois não era possível alcançá-la.

Outra situação que este novo normal nos trouxe foi alguma consideração e admiração pelo trabalho dos professores. Se bem que, apesar de durante a pandemia, as famílias se renderem ao trabalho dos professores, ao seu desgaste físico e psicológico, neste ano, esse sentimento de reconhecimento, admiração e agradecimento voltou um pouco àquilo que estava antes da pandemia, agravado pela falta de professores e pela continuidade de falta de atractivos na carreira docente que se prendem basicamente à carreira remuneratória e às questões da mobilidade.

Este regresso ao presencial trouxe de volta a socialização, a empatia e o bom barulho dos alunos aos edifícios escolares. A necessidade de abordar as necessidades ao nível de saúde mental dos alunos, mais do que isso, de dar respostas mais eficazes e céleres, é uma realidade que foi aumentada pelo uso das tecnologias e do isolamento social. Neste tema, também as necessidades dos professores devem ser consideradas, pois o desgaste é visível e para alguns também o é a necessidade de acompanhamento psicológico.

E por falar em tecnologias, a pandemia foi o grande pontapé das tecnologias para dentro da escola e concretamente, para dentro da sala de aula. Não há como voltar atrás. A facilidade de manuseamento, a utilização pedagógica do que até então se tinha medo, entrou definitivamente no dia-a-dia das escolas.

Para as lideranças, temas como humildade, trabalho colaborativo com toda a comunidade educativa, políticas de saúde e bem-estar, resiliência e trabalho com propósito, tornaram-se essenciais para o sucesso. E mais do que perseguir o sucesso e a performance de cada um, o cuidado e a saúde são, neste momento, indicadores de sucesso. Se uma escola cuida da sua comunidade, se se foca no ensino aprendizagem como sendo o seu propósito e se somos humildes para reconhecermos que aprendemos uns com os outros e que estamos sempre aprender, então o sucesso está connosco.

Bem-vindo, novo normal! Boas férias!

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