Saúde emocional e controlo de emoções: a nova realidade das empresas

Cada vez mais os colaboradores procuram e valorizam empresas genuinamente interessadas em proteger o seu bem-estar emocional, que lhes proporcionem uma boa relação entre o trabalho e a vida pessoal.

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Daniel Rocha/Arquivo

O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e o bem-estar das pessoas e das equipas é cada vez mais valorizado pelos colaboradores, levando os líderes a reflectir sobre novas formas de potenciar a qualidade de vida, felicidade e desempenho individual, independentemente do local de onde se está a trabalhar.

Desafiante? Sim, mas ao mesmo tempo estimulante. É cada vez mais exigível que as lideranças detenham — além das competências técnicas e de negócio da atividade onde se inserem —, outras competências que se referem às relações interpessoais, ao desenvolvimento colaborativo, ao estímulo da inovação e da curiosidade e à procura de uma ambiência que proporcione bem-estar e felicidade às pessoas que lideram.

Volvidos mais de dois anos de pandemia, o regresso das empresas aos escritórios é uma realidade, embora num formato diferente daquele que existia antes. Um dos fatores mais positivos que retirámos deste tempo, em especial os colaboradores das empresas de serviços, foi a possibilidade de nos adaptarmos a um modelo de trabalho à distância, que permitiu fortalecer o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Sabemos que o mundo do trabalho não voltará a ser o mesmo e que a flexibilidade e a forma repartida de desempenho de funções, em casa e no escritório são tendências a manterem-se no futuro.

Como em todas as mudanças, surgem também novos desafios. É algo inerente ao processo. Destacam-se o desgaste provocado pelo contexto pandémico — estar doente, ser cuidador, perder alguém ou ter receio do contacto social —, e uma maior exposição ao stress e isolamento resultantes do teletrabalho. Apesar de a rápida adaptação ao trabalho remoto e a aceleração da transformação digital que ocorreu em paralelo terem permitido uma resposta mais ágil às prioridades do dia-a-dia, também elevaram a exigência na rapidez das respostas e do imediatismo, fatores que interferem com a saúde emocional e a regulação de emoções.

A este contexto complexo, junta-se a invasão da Rússia à Ucrânia, com relatos diários que nos chocam e nos impelem a agir em prol dos outros. Se a saúde emocional ainda não está no topo das prioridades de qualquer líder, vai passar a estar muito em breve. E por saúde emocional entenda-se a capacidade de gerirmos as nossas mudanças de comportamento e a influência que podem ter nos outros e no nosso dia a dia. Distinta da saúde mental, a saúde emocional está relacionada com a forma como vivemos as experiências e com as reações positivas ou negativas que daí advêm.

Cada vez mais os colaboradores procuram e valorizam empresas genuinamente interessadas em proteger o seu bem-estar emocional, que lhes proporcionem uma boa relação entre o trabalho e a vida pessoal. Caminhamos, igualmente, para um elevado interesse por parte dos colaboradores no que se refere aos apoios e às atividades de cariz social que as empresas desenvolvem e praticam. Os colaboradores querem conhecer e participar no propósito das empresas, sentindo-se assim parte na missão de cuidar dos outros, encontrando um sentimento de dever cumprido.

É, por isso, importante que as empresas tenham um foco mais direcionado para a felicidade e qualidade de vida dos seus colaboradores e revejam os benefícios que lhes conferem, e acredito que é neste sentido que serão cada vez mais valorizados programas de bem-estar. Estes programas podem ser verdadeiras mais-valias ao estimularem hábitos e estilos de vida saudáveis, desde logo com o incentivo à prática de atividade física, ou de atividades de relaxamento e reflexão, como por exemplo a meditação ou o ioga.

Podem também ser úteis para proporcionar momentos de coaching, com profissionais especializados, que ajudem os colaboradores a lidar com a pressão e stress no trabalho. Será importante que estes se interliguem com a adoção de modelos de trabalho híbrido, que continuem a permitir aos colaboradores trabalhar no escritório e a partir de outro local.

O estímulo da saúde emocional e a aposta na qualidade de vida dos colaboradores é uma mais valia para as empresas e pode ir para além do horário de trabalho, contemplando todo o seu dia a dia nas diversas dimensões. Saber gerir as emoções das pessoas será também importante para reter e atrair talento no futuro.

Quem conseguir acompanhar estas tendências e reconhecer valor nestes programas, não só vai ter colaboradores mais felizes a trabalhar consigo, como a longo prazo irá certamente conseguir ter melhores resultados organizacionais.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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