Lisboa celebra com música e em festa o centenário do Parque Mayer

As Festas de Lisboa encerram na noite desta quinta-feira com um espectáculo onde 22 canções do Parque Mayer vão ser interpretadas a seis vozes e orquestra. No Terreiro do Paço, às 22h, com entrada livre.

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Ensaios de Cheira a Lisboa, na sede da Metropolitana EGEAC

Foi no dia 1 de Julho de 1922 que o Parque Mayer abriu pela primeira vez as portas ao público, com a inauguração do seu primeiro teatro, o Maria Vitória. Cem anos passados, escassas horas antes de se cumprir tal centenário, o Terreiro do Paço lisboeta abre-se a um espectáculo onde 22 canções celebrizadas naquele teatro de revista vão ser ali recordadas ao vivo, a fechar as Festas de Lisboa de 2022. O acesso à praça é livre e em palco estarão Anabela, FF, Katia Guerreiro, Luís Trigacheiro, Lura e Marco Rodrigues, acompanhados pela Orquestra Metropolitana dirigida pelo maestro Cesário Costa. Os arranjos, como tem sucedido noutros espectáculos da EGEAC, foram entregues a três músicos e compositores: Filipe Raposo, Pedro Moreira e Lino Guerreiro.

O cantor e compositor Luís Varatojo, consultor musical deste espectáculo, explica ao PÚBLICO como surgiu a ideia do espectáculo Cheira a Lisboa, que a partir das 22 horas de 30 de Junho fará ouvir no coração da cidade canções como Cheira a Lisboa, Zé Cacilheiro ou Boa nova, gravada por Amália em 1942: “Eu fui convidado para montar este espectáculo, dentro do registo do que fizemos com a Amália ou com o António Variações. Era um repertório que eu pensava que não conhecia. Mas quando comecei a pesquisar, percebi que já tinha ouvido aquelas canções quase todas. Ainda assim, descobri pérolas que nunca tinha ouvido, como a Sinfonia do Ribatejo, que é basicamente um fandango, interpretada na altura pelo João Villaret, ou o Santo António, também interpretado por ele, com uma letra que foi proibida à época pela censura.”

Cantar bem português

Reunido o repertório, como a ideia era fazer um espectáculo com várias vozes, foi preciso seleccioná-las. “Tínhamos ideia de ir buscar pessoas mais próximas do Parque Mayer, e aí pensámos na Anabela e no FF; algumas da área do fado, daí o Marco Rodrigues e a Katia Guerreiro; e pensámos em ter também alguém que não tivesse uma ligação óbvia nem com o Parque Mayer nem com o fado, lembrámo-nos da Lura e do Luís Trigacheiro. Precisávamos de alguém que cantasse bem português e estas vozes cumprem bem esse pressuposto.” Com a orquestra sempre presente, e sem revelar o alinhamento, “para haver alguma surpresa”, os músicos actuarão à vez, diz Luís Varatojo: “Cada um vai ter o seu momento no palco, vão-se cruzar, vai haver alguns duetos e no final haverá uma canção com todos, para acabar em festa.”

Quanto aos arranjos, a EGEAC já havia trabalhado anteriormente com Filipe Raposo e Pedro Moreira, mas não com Lino Guerreiro, ligado à Orquestra Metropolitana de Lisboa. “O maestro Cesário Costa já conhecia o trabalho do Lino e foi ele que sugeriu o seu nome.” Cada qual trabalhou as suas canções, mas numa delas o arranjo foi feito por todos, diz Luís Varatojo: “Já num espectáculo anterior, o da Amália, eu propus que o arranjo da canção que seria interpretada por todos fosse tripartido, quase um cadáver esquisito. E agora voltámos a repetir essa ideia.”

Concerto para a cidade

Para Cesário Costa, o maestro que dirigirá a Metropolitana neste espectáculo, há também um desafio, como o próprio explica ao PÚBLICO: “Em primeiro lugar, estamos a pensar em músicas que toda a gente conhece. E podemos contar com novas orquestrações, que vão com certeza dar uma nova sonoridade a estas músicas, de que existem muitas gravações também com orquestra. Aqui, o objectivo é que o público cante com os cantores e com a orquestra e que possa facilmente identificar as músicas, as melodias, o texto, o refrão, tudo isso. E eu ficaria muito contente se o público tivesse essa participação, porque é um concerto para a cidade.”

Quanto aos arranjadores, Cesário Costa elogia-lhes a diversidade: “O Filipe Raposo e o Pedro Moreira são da área mais do jazz, mas têm uma experiência muito grande e já participaram em muitos outros projectos com estas características, o Lino Guerreiro vem de uma área um pouco diferente, mas julgo que é interessante, porque nós conseguimos identificar em cada um dos arranjos um estilo próprio que eles conseguem inserir nas obras que reorquestraram. Mas sem perdermos aquilo que é o essencial das músicas que foram escritas. Porque não é música datada, é música que nasceu no Parque Mayer. E para o público isso é também interessante descobrir, porque vai realçar a importância que o Parque Mayer teve na história da música em Portugal.”

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