No TikTok, oferece-se “casa, comida e conforto” a quem precisar de viajar para abortar

O movimento junta vídeos de mulheres norte-americanas que oferecem casa nos estados onde o aborto deverá continuar a ser permitido. E garantem: “Se afundarmos, afundamos juntas.”

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“Se afundarmos, afundamos juntas.” É esta a tradução da música (e da hashtag) #ifwegodownwegodowntogether, que está a unir mulheres americanas (e não só) que querem abrir as suas portas para ajudar as que querem abortar.

O movimento surge depois de o Supremo Tribunal nos EUA ter revertido a decisão do caso Roe vs Wade, que, há quase 50 anos, concedeu às mulheres o direito ao aborto. Agora, metade dos 50 estados norte-americanos deverão proibir ou impor restrições apertadas ao aborto legal — o que poderá abrir portas a procedimentos ilegais e perigosos.

É daí que nasce esta onda de solidariedade, que leva mulheres americanas que vivem em estados onde o aborto deverá continuar a ser legal (essencialmente na costa Oeste ou no Nordeste do país, como na Califórnia, Nova Iorque, Minnesota ou Montana) a oferecerem cama, comida e conforto a mulheres que vivam em estados como o Missouri e Luisiana (os primeiros a pôr fim ao direito), Kentucky, Oklahoma, Texas, Tennessee ou Utah.

Muitas vezes omitindo a palavra “aborto” — que é substituída por códigos como “acampar”, “tricotar”, “tirar férias” —, as mensagens são mais ou menos as mesmas: “Vivo a quatro horas de Montana. Se precisares de aprender a tricotar, podes vir aqui para aprender. Posso tomar conta de ti, dar-te comida e abraços enquanto aprendes”, lê-se num dos vídeos partilhados com a hashtag. “Para as minhas amigas americanas: sou a Nicole, a tua bestie canadiana. Vivo em Ontário. Se precisares de umas férias para fazer provas de vinho e procurar lojas tradicionais, vamos. Há espaço para recuperares da ressaca”, escreve outra.

@jessem70 #ifwegodownthenwegodowntogether ? Paris - The Chainsmokers

Apesar de a maioria serem de e para mulheres americanas, a solidariedade estende-se até à Europa, com pessoas de diferentes países a disponibilizarem-se para acolher americanas que queiram viajar para fazer um aborto seguro. E também há quem se lembre de quem vive na Polónia, onde o aborto apenas é permitido em caso de violação, incesto, ou quando a vida da mãe está em risco.

A thread já conta com centenas de vídeos e as palavras de sororidade multiplicam-se. Este é mais um movimento que nasce no rescaldo da decisão do Supremo: as norte-americanas estão também a apagar as apps que monitorizam o período, com receio que os dados possam ser usados contra pessoas que querem interromper a gravidez.

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