G7 vai estudar imposição de limites ao preço da energia russa

Líderes europeus receptivos a proposta feita pelos EUA, mas “ainda há muito trabalho a fazer”. Itália quer tectos no gás, França defende limitações de preço para outros fornecedores além da Rússia

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Reuters/POOL

Os líderes dos sete países mais industrializados do mundo vão estudar a exequibilidade de um sistema que imponha tectos aos preços das importações de energia. A decisão, anunciada na segunda-feira à noite, após três dias de reuniões do chamado G7 na Alemanha, pretende condicionar as receitas da Rússia com a venda de gás e petróleo e, dessa forma, limitar o financiamento externo da máquina de guerra russa, que invadiu e tem destruído cidades da Ucrânia desde 27 de Fevereiro.

A guerra na Ucrânia e os preços crescentes da alimentação e da energia dominaram o encontro do G7, que teve lugar num castelo nos Alpes da Baviera. Os líderes das sete democracias mais ricas do planeta chegaram a outro acordo, o de canalizar cinco mil milhões de dólares para combater a fome, disseram fontes diplomáticas citadas pela agência de notícias Reuters. Será uma verba para quase meia centena de países onde a ameaça de fome é maior, muitos dos quais culpam as sanções contra a Rússia pela escalada dos preços na alimentação.

Segundo o comunicado final da cimeira, a União Europeia irá explorar com outros parceiros internacionais a exequibilidade de um sistema que permita baixar os preços da energia russa. Tal sistema passaria pela fixação temporária de tectos no preço das importações. As mesmas fontes diplomáticas explicam que em causa estão as importações de gás e de petróleo.

A limitação de preços é vista pelo G7 como uma medida preventiva. Pretende evitar que Moscovo lucre com a invasão russa, ao arrecadar mais pelas suas exportações energéticas para o resto do mundo, nomeadamente para os países a ocidente.

Só a União Europeia compra à Rússia, todos os dias, 2,2 milhões de barris de crude e 1,2 milhões de barris de petróleo refinado, segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE). A guerra na Ucrânia tem vindo a contribuir para a escalada da inflação nas matérias-primas, nomeadamente na energia. Em Maio, a Rússia vendeu menos petróleo (em volume), mas acabou por arrecadar mesmo assim mais receita, segundo o relatório de Junho da Agência Internacional de Energia (AIE).

A proposta para o avanço da imposição de limites no preço terá partido dos EUA. Os restantes parceiros do G7 terão mostrado receptividade, mas outra fonte diplomática citada pelo Financial Times notou que “ainda há muito trabalho a fazer” para tornar este sistema uma realidade.

Com Líbia e Equador a alertarem para problemas na produção de crude, as notícias da fixação de preços e de eventuais dificuldades acrescidas no fornecimento de energia levaram a novas subidas nos preços do crude. O petróleo do Mar do Norte (Brent), que serve de referência aos mercados europeus, estava a subir 1,37% por volta das 10h (Portugal Continental), para perto dos 117 dólares o barril, ao passo que o Western Texas Intermediate subia 1,38%, para os 111 dólares por barril.

Os países da OPEP+ deverão reunir-se esta semana para debater possíveis aumentos de produção. Uma decisão favorável nesse sentido pode ajudar a travar esta escalada.

O mecanismo de limitação de preços ainda não foi explicado, mas segundo a Reuters ligaria os serviços financeiros, de seguros e de transporte do petróleo a tectos impostos sobre o preço do crude russo. Assim, um transportador que queira estes serviços teria de se comprometer ao preço máximo imposto para esse produto.

Na União Europeia, o sexto pacote de sanções contra a Rússia prevê um embargo às importações de petróleo até ao final deste ano, só ficando de fora o crude que passa pelo oleoduto de Druzhba para abastecer os países que não têm costa marítima, como a Hungria, Eslováquia e República Checa.

A Itália, altamente dependente da energia comprada aos russos, incentivou a extensão deste sistema de limites ao preço do gás. Na semana passada, o primeiro-ministro Mario Draghi alertou para a necessidade de conter a factura energética para controlar a inflação, apontando que as objecções a um tecto no gás de outros países europeus se devia apenas ao receio de que isso pode levar Moscovo a cortar ainda mais no fornecimento.

França, por seu lado, defende que o sistema de limitação de preços deveria ser aplicado de uma forma generalizada, para além da Rússia, nas compras de energia noutras fontes.

O G7 chegou ainda a um acordo de princípios para promover um boicote às importações de ouro proveniente da Rússia. Porém, a UE terá demonstrado algumas reservas, ao passo que Reino Unido, EUA, Japão e Canadá já assumiram a intenção de banir ouro russo recém-minerado ou refinado.

A vontade de apertar financeiramente a Rússia com sanções gera, no entanto, preocupações acrescidas pelas ondas de choque que pode provocar no resto do mundo. Isso tem-se visto com as sanções e, segundo os líderes do G7, há um “risco real” de a fome alastrar pelo mundo, como aliás já apontou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Para amenizar este risco, o G7 prometeu canalizar “até cinco mil milhões de dólares para melhorar a segurança alimentar”, segundo uma fonte diplomática dos EUA citada pela Reuters. Washington asseguraria cerca de metade dessa soma, que se destinaria a ajudar a combater a fome em 47 países.

Esta medida pode ser uma tentativa de o G7 conquistar países emergentes, em desenvolvimento, ou mais pobres, cujas lideranças políticas podem estar mais próximas de Moscovo do que o G7, que aliás convidou cinco administrações de países emergentes para o palco montado no castelo de Elmau: Índia, Indonésia, África do Sul, Senegal e Argentina.

Muitos daqueles países aos quais seria destinada a ajuda demonstram preocupações acrescidas com o impacto da subida dos preços dos produtos alimentares. Nalguns casos, culpam mais as sanções contra a Rússia e o bloqueio dos seus portos do que a invasão e ataque continuado contra a Ucrânia, que é um dos maiores produtores mundiais de cereais.

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