Energia: em Sintra não se vê um fim da crise no horizonte

Estudos apresentados por dois economistas no Fórum do BCE apontam para uma persistência da dependência relativamente ao gás russo, com a Europa a sentir efeitos significativos na sua economia e nos preços.

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EPA/FOCKE STRANGMANN

Ao mesmo tempo que os líderes do G7 discutem na Alemanha a possibilidade impor limites aos preços dos produtos energéticos provenientes da Rússia, em Sintra, no Fórum anual do Banco Central Europeu (BCE), dois economistas traçaram um cenário sombrio, no médio prazo, relativamente à evolução dos mercados do petróleo e do gás natural e ao impacto que isso pode ter na economia da zona euro. O Fórum, que se prolonga até amanhã, reúne em Sintra economistas e banqueiros centrais para discutirem os grandes desafios da política monetária.

Focando-se no gás natural, o dinamarquês Christian Zinglersen, director da agência da União Europeia que junta os diversos reguladores de energia, a ACER, mostrou-se muito céptico em relação à capacidade da Europa para encontrar, de forma rápida, alternativas credíveis aos fornecimentos russos.

Sem o gás russo, a Europa não irá conseguir preencher as suas reservas. Temos de reconhecer essa realidade”, afirmou, defendendo que esta fonte de energia continuará a ter “um papel muito importante na UE durante muitos anos” e que o mercado internacional de gás continuará “muito apertado”, com a Europa a concorrer com a Ásia pelos fornecimentos.

Sendo assim, defendeu, a UE deveria, em vez de se concentrar apenas em formas de reduzir os preços, “começar a pensar mais seriamente no racionamento”. “Reforçar a ideia de recursos partilhados”, disse, “exige muito investimento, seja em infra-estruturas, seja na governação e nas instituições”.

No que diz respeito ao petróleo, o estudo apresentado em Sintra por ​Hilde Bjornland, professora na BI Norwegian Business School, mostrou, comparando as presentes circunstâncias com a de crises petrolíferas passadas, que choques nos preços do petróleo como o actual têm um efeito forte nas expectativas de inflação dos agentes económicos e mostram “potencial para terem efeitos de longa duração nos preços”. Para além disso, uma subida de 10% dos preços provoca, em média, uma descida de 0,5% no PIB, calcula, o que no actual cenário pode significar que a zona euro pode sofrer um impacto negativo forte no seu ritmo de crescimento.

Hilde Bjornland defende por isso que, para evitarem o efeito de longo prazo nos preços e, ao mesmo tempo, não piorarem ainda mais o desempenho da economia, os bancos centrais devem agir contra a inflação “de forma rápida, mas ponderada”.

Já no que diz respeito aos limites de preços debatidos pelo G7, a economista defendeu ser o caminho errado a seguir. “É uma medida popular, mas só vai alimentar ainda mais a inflação”, disse.

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