De duas em duas semanas, este atlas diz-nos se os corais estão a ficar sem cor

O Atlas de Corais Allen monitoriza o branqueamento de corais nos recifes nos trópicos. Projecto foi abordado num evento ligado à Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, em Lisboa.

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Mapas de habitat num recife de corais em Wallis e Futuna: os corais estão a rosa e as ervas marinhas a verde escuro Atlas de Corais Allen

Paulina Gerstner continua a acreditar no futuro dos recifes de coral. Ela sabe perfeitamente o que dizem os cientistas presentes na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas e até os parafraseia: “Os recifes de coral estão a morrer e precisam de ajuda. Estão a enfrentar muitas ameaças, como o branqueamento ou a poluição da actividade humana em terra.” Mas também faz questão de nos motivar com as suas palavras. “Há esperança [para os recifes de coral] porque temos cada vez mais informação sobre eles.” Paulina Gerstner é a directora do programa Atlas de Corais Allen, um site que fornece dados actuais sobre o estado dos recifes de coral.

Este atlas foi lançado oficialmente em 2021, mas esta semana Paulina Gerstner veio falar um pouco sobre ele a um evento paralelo à Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, o Reef Action Hub, que decorre até esta sexta-feira. Numa pequena sala cheia de especialistas, num centro ao lado da Altice Arena, não esconde a sua satisfação por fazer parte da equipa deste atlas.

“Nos últimos anos, tenho tido a oportunidade de trabalhar na conservação do oceano e aprender com pessoas com vidas ligadas aos recifes de coral”, recorda. “Hoje, olho pela sala e – claramente – há uma comunidade com um objectivo comum: quer um oceano saudável e assegurar que as gerações futuras tirem benefício dos oceanos tal como nós.” O que pode ajudar a cumprir esse objectivo? Para Paulina Gerstner, um grande contributo vem de ferramentas tecnológicas como o Atlas de Corais Allen. “Neste atlas, mapeamos os recifes de coral no mundo para disponibilizar dados e continuar a perceber as ameaças que afectam os nossos recifes.”

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Paulina Gerstner DR

Ao longo da sua apresentação, vai mostrando algumas imagens do atlas interactivo. Para o consultar – e todos o podem fazer –, basta ir ao site do projecto. Ao PÚBLICO, Paulina Gerstner explica com mais detalhe que ferramenta é esta. “O Allen Coral Atlas [Atlas de Corais Atlas] é um website público que oferece mapas dos recifes de coral”, define. Nesses mapas, consegue-se distinguir as áreas onde estão os corais e as ervas marinhas de outras áreas.

Esta ferramenta de monitorização informa-nos sobre o branqueamento dos corais (um fenómeno que os deixa sem cor e os pode levar à morte) e a turbidez na água. “A cada duas semanas, temos dados actualizados sobre onde os corais estão a branquear no mundo”, diz a responsável. Neste projecto, há mapas dos recifes de corais superficiais (sim, porque há corais em zonas mais profundas) dos trópicos. “[Temos] tudo desde o extremo sul, como Moçambique, até ao mar vermelho, mais a norte”, situa-nos.

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Branqueamento leve a moderado detectado na Grande Barreira de Coral, na Austrália, em Fevereiro Atlas de Corais Allen

E porque não tem de outras áreas como Portugal? Há uma limitação vinda das imagens de satélite que usam no atlas. “Os satélites que usamos não são capazes de detectar [os recifes de coral] se a água está demasiado escura e em Portugal, por exemplo, a água é demasiado escura para se penetrar e ter esses dados dos recifes de coral”, justifica a responsável do projecto. Mesmo assim, com toda a evolução da tecnologia, não descarta que dados dessa zona venham a fazer parte do atlas.

Uma ajuda na protecção marinha

Já no rescaldo da conversa com Paulina Gerstner e a sua apresentação, quisemos saber mais sobre este atlas. Encontrámos um comunicado recente desta iniciativa e ficamos a saber que tudo começou em 2017. Nesse ano, uma equipa iniciou o desenvolvimento de uma ferramenta gratuita que auxiliasse a gestão e a conservação dos recifes. Juntou-se assim uma equipa internacional interessada na protecção dos corais. O nome do atlas é uma homenagem a Paul Allen (1953-2018), pois foi a produtora Vulcan (fundada por ele) financiou e idealizou o projecto. Hoje é gerido pelo Centro para a Descoberta Global e Ciência da Conservação da Universidade do Arizona. Actualmente, já terá chegado a muitos cientistas e organizações, havendo contributos de muitos deles.

Antes de seguirmos para outros temas na Conferência dos Oceanos, perguntámos a Paulina Gerstner sobre os contributos deste atlas. A responsável começa logo por nos dizer que é muito útil para a protecção marinha. “Para se criar uma área marinha protegida e limitar a pesca ou outras actividades nos recifes, [temos de os conhecer]. Esse é um dos principais usos”, explica. Desta forma, pode-se quantificar os corais nos recifes, saber qual o seu estado e saber se uma área é prioritária para ser protegida.

Também pode ser uma ferramenta útil para as actividades de restauro dos recifes de coral. Se se estiver a cultivar corais, os mapas do atlas podem indicar qual a melhor altura e local para os pôr na natureza.

Paulina Gerstner quer deixar a ideia de que o Atlas Allen de Corais é um importante contributo na tomada de decisões, mas que é uma entre muitas plataformas que cientistas e outros especialistas estão a desenvolver. “Todos juntos conseguem dar-nos informação sobre qual é o estado dos recifes de coral e, assim, é possível tomar decisões melhores para o futuro.” Afinal, os corais enfrentam muitas ameaças – do branqueamento às doenças e à poluição – e é preciso pensar no seu destino. Mas Paulina Gerstner tem esperança, muita esperança.

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