Cartas ao director

Até à derrota final?

Gargalhámos quando Trump se apresentou às primárias do Partido Republicano.
Rimo-nos com prazer, ainda confiantes, quando ele defrontou Hillary Clinton nas presidenciais dos EUA.
Esboçámos um sorriso amar(go)elo, quando tomou posse, embalados ainda na fé dos que aprego(av)am a infalibilidade dos checks and balances da democracia norte-americana.

Aterrados com tantas medidas que Trump tomou, aspirámos por nos vermos livres dele.

Conseguimos, respirámos fundo e confiámos em Biden. Mas a semente tinha ficado. E frutificou. Sem sequer termos direito a “abortar os fetos” do crime trumpiano.

Que faremos agora que os resultados de tanta “bondade” começam a aparecer? Continuamos a entregar cegamente aos norte-americanos os destinos do “mundo livre”, agradecendo-lhes por nos defender? E quem nos defende deles?
José Rodrigues, Vila Nova de Gaia

A necessidade de pensar

Foi com prazer que li a referência de António Guerreiro a Henri Lefebvre (PÚBLICO de 24 de Junho). Leio Lefebvre desde 1973, tenho toda a sua obra e li-a quase toda; neste momento estou a estudar La somme et le reste.

Foi com Lefebvre que fiz a aproximação ao marxismo. Traduzi para a extinta Campo das Letras o livro Mai, 68, L’irruption…; a obra não foi publicada devido à extinção da editora; em 2018 propus a tradução a várias editoras — só uma respondeu a dizer do seu desinteresse; tenho o seu estudo seminal sobre a Comuna de Paris, traduzido. Afirmam os seus biógrafos que é a Henri Lefebvre que recorrem sempre que se põe a “necessidade de pensar”. E com isto estaria tudo dito. Em minha opinião é de facto a Henri Lefebvre que se deve a verdadeira “restituição” do pensamento marxista no século XX; para ele, o marxismo tinha-se transformado no seu contrário.

Só torço o nariz ao classificativo de “historiador” que lhe atribui António Guerreiro. Henri Lefebvre é filósofo e sociólogo, não historiador, embora tenha andado também pela história (o auditório de sociologia de Nanterre tem o seu nome). Já agora, ao livro citado poderia acrescentar La révolution urbaine , Gallimard, 1970 ou, do mesmo ano, Du rural à l’urbain, Antrophos, etc. Henri Lefebvre é um dos dois ou três pensadores que merece um estudo objectivamente aprofundado, isto para utilizar uma sua expressão, não fosse o estado permanente de indigência do debate académico em torno da teoria.
Guilhermino Monteiro, Rio Tinto

É a guerra, estúpido!

Farsa não é, comédia muito menos. Poderia ser um circo, já que palhaços não faltam com narizes multicolores e a cheirar oportunidades que por entre destroços em montanha, se formam a cada ofensiva, que de um lado e do outro estouram como balões de pólvora e cheios de morte. Pelo palco saltitante o cheiro a podre sobe no ar e desce desfazendo-se em cima de já outros destroços que escondem velhos cadáveres. Uns procurados sem crime outros por crime cometido. Uns inocentes, outros culpados por intervenientes em conflito assassino. As bombas a sério, sem nenhuma piada, encontram o solo e o homem fardado e o civil andante a rigor e cheio de vontade de fazer rir e chorar qualquer plateia com um saco preto pela mão. Uns cantam, outros choram até ao funeral da derrota e da vitória com discurso heróico e medalha por ostentar. Os que vão sobrar terão a sua, condizente com o seu louvor. Umas de prata e ouro, outras de cortiça com direito a fita multicolor, beijo ensanguentado e lágrimas.

O discurso oficial está pronto e fotocopiado para enaltecer o cadáver que por fim se encontrou entre o cascalho desfeito e que dará muito a ganhar aos que retiram vantagem de voltar a erguer o que antes estava de pé e servia de casa e até uma estátua decepada no largo que agora está desimpedido a registar mais história à História passada e heróica de quem se fez soldado. Todos implicados sem saberem bem porquê.

A História é feita de casos e de heróis imbecis atropelados em guerras lavradas por nós de gravata e fato a rigor que se escondem por baixo de camuflados a preceito. Porém, as balas que esvoaçam que nem pombas de paz e de que são de conflito duro e tenso não escolhem o palhaço que entra em tal circo. É a guerra estúpida, é a guerra, estúpido. Criminosa como todas as que se travaram em campos de batalha que deram lugar a cereal e a novas fortunas que encheram os cofres dos já milionários, também chamados de, oligarcas sem escrúpulos e de Presidentes activos com disfarce de guerreiros com boa vida!
Joaquim Moura, Penafiel

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