Suspeitos da morte de criança de três anos ficam em prisão preventiva

Ana Cristina (conhecida como Tita), o seu marido e a filha ficaram na prisão a aguardar julgamento

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Uma das presumíveis autoras das agressões fatais a Jessica Lusa

Os três suspeitos do homicídio de Jéssica Biscaia, a menina de três anos que morreu em Setúbal na sequência de maus tratos, ficaram em prisão preventiva. As medidas de coacção foram comunicadas este sábado à tarde aos jornalistas pelo juiz presidente da Comarca de Setúbal, António Fialho.

“O Ministério Público pediu segredo de justiça do processo, que foi deferido pelo tribunal. Relativamente aos arguidos que foram hoje apresentados a tribunal para primeiro interrogatório judicial, duas pessoas do sexo feminino e uma do sexo masculino, ficaram todos em prisão preventiva”, disse o juiz presidente da Comarca de Setúbal, numa curta declaração, depois de o juiz de instrução Criminal ter procedido à leitura da decisão aos arguidos.

Questionado pelos jornalistas, o juiz António Fialho escusou-se a revelar os crimes de que os três arguidos estão indiciados, embora se saiba que envolviam crimes de rapto, extorsão, ofensas à integridade física e homicídio qualificado.

Sobre a mulher que se dedicava a vender serviços de bruxaria, o seu marido e uma filha do casal recaem também suspeitas de sequestro da criança, que terão retido em sua casa durante cinco dias, e de tentativa de extorsão da sua mãe.

Segundo fonte da investigação, a mãe da menina terá pago a esta mulher um valor combinado para que lhe prestasse serviços de bruxaria, destinados a melhorar o relacionamento com o companheiro. Porém, após um primeiro pagamento, Ana Cristina (conhecida como Tita) terá tentado convencê-la de que o trabalho só ficaria bem feito com mais sessões e com novo pagamento. E assim a terá persuadido a ir a sua casa no passado dia 15 de Junho, para falarem do assunto. Ter-lhe-á dito que levasse consigo Jéssica, porque tinha uma neta também com três anos e assim podiam brincar juntas um bocado. Também lhe pediu roupa para a neta.

Nesse dia abriu a porta de casa a mãe e filha. Mas, enquanto a criança entrava, barrou alegadamente a passagem à progenitora, que deixou à porta: se não lhe entregasse várias centenas de euros não voltava a ver a filha tão cedo. “Se fores à polícia a tua filha é que vai pagar”, ter-lhe-á dito.

Os juros da suposta dívida iam aumentando à medida que passavam os dias. A mãe foi-se embora para casa e não terá contado nada a ninguém, nem ao companheiro, atemorizada com o que podia suceder a Jéssica, contou fonte da Polícia Judiciária, com base nas declarações da progenitora. Durante os telefonemas que ia recebendo da sequestradora a pressioná-la para arranjar o dinheiro ouvia gritos infantis em ruído de fundo. Seriam da filha ou da outra criança? Não conseguia perceber. Porém, já a menina estava em cativeiro há quatro dias quando a mãe foi vista num espectáculo itinerante que a TVI fez em Setúbal no domingo.

Nunca pagou o valor que lhe exigiam, um pouco menos de mil euros. Ao quinto dia novo telefonema, queriam devolver-lhe a filha, mas num encontro na rua. Jéssica tinha sido vestida de forma a encobrir os maus tratos, e também lhe tinham posto uns óculos para disfarçar as lesões no nariz. Disseram-lhe que a filha dormia – quando, na realidade, estava desfalecida. E que tinha caído de uma cadeira. Mas se se atrevesse a ir com ela ao hospital ou à polícia matavam-na, a ela e ao resto da família, contou.

O que se passou a seguir é conhecido. A mãe levou Jéssica para casa e acabou por se aperceber de que havia algo errado no suposto sono. Chamou o INEM, mas era demasiado tarde para a salvar. Com Lusa

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