Cada vez mais empresas pagam custos de viagem para fazer um aborto

Gigantes americanas, incluindo a Walt Disney, Meta e Bumble, vão cobrir as despesas dos funcionários que terão de viajar para outros estados para conseguirem aceder a serviços de aborto legais.

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Empresas norte-americanas, algumas com sedes em estados republicanos conservadores, anunciaram que vão cobrir as despesas dos funcionários que agora terão de viajar para conseguirem aceder a serviços de aborto. A Walt Disney Co, Meta, Bumble e Amazon são alguns dos empregadores gigantes que já anunciaram cobrir os custos.

O Supremo Tribunal dos EUA deu, na sexta-feira, 24 de Junho, o passo dramático de derrubar a decisão histórica de 1973 que reconheceu o direito constitucional de uma mulher a um aborto e legalizou o procedimento a nível nacional, concedendo uma importante vitória aos republicanos e conservadores religiosos que querem limitar ou proibir e, em alguns estados, criminalizar o procedimento.

Sem protecção federal, espera-se que na sequência da decisão muitos estados limitem ou proíbam ainda mais os abortos, tornando difícil para milhões de pessoas interromper a gravidez, a menos que se desloquem a estados onde o procedimento é permitido. Para muitos que vivem num país com custos exorbitantes nos serviços da saúde, os benefícios dos empregadores podem ser a única forma de conseguirem pagar um aborto.

A Patagónia cobre o custo do seguro de saúde para trabalhadores a tempo inteiro e a tempo parcial, incluindo serviços de interrupção voluntária de gravidez. “Onde existem restrições, as viagens, alojamento e alimentação estão cobertas”, declarou a empresa. A Patagónia comprometeu-se ainda a pagar “a fiança para aqueles que protestam pacificamente pela justiça reprodutiva”.

Um rascunho da decisão do Supremo Tribunal sobre o aborto foi divulgado em Maio. Nessa altura, muitas outras empresas, incluindo o site de críticas Yelp, a Microsoft Corp. e a Tesla, disseram que alargariam os benefícios de saúde de forma a cobrir os custos de viagem dos empregados que procuravam serviços de aborto.

O co-fundador da Yelp, Jeremy Stoppelman, disse na sexta-feira que a decisão “coloca a saúde das mulheres em perigo, nega-lhes direitos humanos, e ameaça desmantelar o progresso que fizemos no sentido da igualdade de género no local de trabalho desde Roe”.

No início de Maio, a Levi's divulgou um comunicado onde reconhecia que “o acesso aos cuidados de saúde reprodutiva, incluindo o aborto, tem sido um factor crítico para as contribuições das mulheres no local de trabalho, ao longo dos últimos 50 anos”.

No entanto, as atenções estão voltadas para a cadeia de supermercados Walmart, o maior empregador privado no país, com 1,6 milhões de trabalhadores. A multinacional de retalho só cobre abortos para trabalhadores cujas vidas estão em perigo.

Já a Disney disse aos quase 200 mil funcionários, na sexta-feira, que reconhece o impacto da decisão sobre o aborto, mas continua empenhada em fornecer acesso abrangente a cuidados de saúde de qualidade, incluindo para “decisões relacionadas com a gravidez” e com o “planeamento familiar”, independentemente do estado onde residem.

A Meta, detentora do Facebook, reembolsará as despesas de viagem dos funcionários que procuram cuidados reprodutivos fora do estado, embora um porta-voz da empresa tenha salvaguardado que a empresa estava ainda “a avaliar a melhor forma de o fazer dadas as complexidades legais envolvidas”.

As empresas que oferecem reembolsos por viagens relacionadas com a interrupção de gravidez poderão ficar vulneráveis a processos judiciais por grupos anti-aborto e estados republicanos e mesmo a potenciais sanções penais. Advogados e outros peritos afirmam que os empregadores poderão enfrentar alegações de que as suas políticas violam as leis estatais, ao facilitar um procedimento considerado ilegal.

Segundo a CBS News, a Dick's Sporting Goods, com cerca de 50 mil trabalhadores, vai reembolsar os custos da viagem “até ao local mais próximo onde estão legalmente disponíveis” clínicas de aborto, até 3789 euros. “Estamos a tomar esta decisão para que os nossos colegas de equipa possam aceder às mesmas opções de cuidados de saúde, independentemente do local onde vivem e escolher o que é melhor para eles”, disseram Ed Stack, o presidente executivo da empresa, e a CEO Lauren Hobart, numa declaração publicada nas redes sociais.

O Alaska Air Group, da Alaska Airlines, disse na sexta-feira que está “a reembolsar viagens para determinados procedimentos e tratamentos médicos, se não estiverem disponíveis no local onde vive”. “A decisão de hoje do Supremo Tribunal não altera isso.”

Outras empresas que dizem oferecer este subsídio incluem as apps de encontros online OkCupid e Bumble, a Netflix e, a partir de Julho, o maior banco do país, o JPMorgan Chase & Co.

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