Uma imagem chocante de resgate de uma mulher no Mediterrâneo motivou Jorge Serafim a escrever este livro, que conta a história de uma embarcação que a todos acolhe. Sem discriminações.
“Uma viagem que é uma alusão a todos aqueles que são forçados a partir e a abandonar as suas origens e raízes e que posteriormente, depois de travessias angustiantes, ao invés de chegarem a terra firme, ainda são confrontadas com a intolerância, o preconceito, o medo e a violência”, escreve o autor na divulgação do livro.
“Era uma vez um barco perdido no meio da sua angústia. Não era o mar que o embalava, era a tristeza que transportava. Somente um objectivo norteava a sua travessia, zarpar o mais depressa possível do local de partida para se juntar ao voo das gaivotas que anunciavam no céu o aproximar de um sonho.” Assim começa uma história contada poeticamente, que é um alerta e um lamento sobre a falta de humanidade e bondade perante os refugiados que tentam a sorte atravessando mares.
Diz o contador de histórias e também humorista: “De todas as formas, é uma história de esperança, pois durante a narrativa está subjacente que é através do diálogo e da compreensão dos outros, e dos outros por nós, que se esbatem fronteiras e se constroem caminhos alternativos à ignorância. Como a certa altura é mencionado no texto: ‘Uma ponte é quando a bondade une as distâncias’.”
Um manifesto de palavras e imagens
Jorge Serafim diz-se apaixonado por ilustração e aventurou-se a criar as imagens dos seus livros. Neste caso, além de colagens, usou aguarelas, acrílicos, guache, jornais, boletins de jogos de sorte, a que juntou frases poéticas. E explica: “Palavra e imagem complementam-se como um manifesto. A afirmação de que o mundo interior nunca será enclausurado enquanto a arte e a linguagem se assumirem como a voz de cada ser humano.”
O ex-bibliotecário da Biblioteca Municipal de Beja quer com Amar à Vista homenagear os barcos de organizações não-governamentais “que enfrentam teias obscuras para salvar vidas”. E lembra que em tempos de pandemia quase não se falou destes “mares de angústia”, que continuam e continuam.
O autor gostaria que este livro chegasse ao maior número de leitores possível, como disse ao Diário do Alentejo: “Sem idade, nem geografia limitada. Que circulasse de mão em mão, de coração em coração, para que nunca esqueçam.” E cita uma frase da história: “A esperança é quando o amor se põe à espreita.”