Uma Conferência para trazer para primeiro plano a governação da diabetes em Portugal

Foi no passado dia 2 de Junho que teve lugar a Conferência “A Governação da Diabetes em perspectiva: (Re)definir o Futuro”. A versão preliminar do relatório “Governação em saúde e diabetes: perspectivas, ferramentas e recursos” foi o ponto de partida para uma tarde de trabalho e a discussão e as conclusões não tardaram a chegar.

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O Hotel Olissippo, em Lisboa, foi o palco da Conferência “A Governação da Diabetes em perspectiva: (Re)definir o Futuro”, organizada pelo Instituto de Saúde Baseada na Evidência (ISBE), com o apoio da Boehringer Ingelheim, em parceria com o Público. E o seu alcance foi muito para além da audiência ali presente. Via Zoom, muitas foram as pessoas a assistir, com perguntas e desafios prontos a serem colocados.

A Conferência teve início com a sessão de abertura, conduzida pela jornalista Cláudia Pinto, ao lado de António Vaz Carneiro, Presidente do ISBE e Paulo Nicola, Investigador Principal da iniciativa D-Way, e Maria de Belém Roseira, Presidente da Comissão de Honra. “Temos que olhar para a diabetes como uma doença que requer o melhor do funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e da sua articulação com todos os outros intervenientes”, começou por dizer Maria de Belém Roseira, reforçando em seguida a importância do encontro. “Hoje vai ser uma tarde de trabalho muito interessante”, afirmou, sublinhando em seguida: “É muito importante que os cidadãos, no seu exercício de cidadania, contribuam para aquilo que foi sempre um investimento que os portugueses também fizeram no seu Serviço Nacional de Saúde, na sua capacidade estratégica para articular com outros sectores para completar tudo aquilo que nós precisamos que um Sistema de Saúde tenha acesso equitativo a cuidados. E sobretudo cuidados que sejam de qualidade. É tudo isso que aqui nos junta.” A Presidente da Comissão de Honra da iniciativa sublinhou igualmente a importância de contribuir para que “o Plano Nacional de Saúde de 2021-2030 possa ter uma eficácia muito importante, clara e de investimento na qualidade dos cuidados que se prestam neste domínio”.

Dado o mote para o resto da tarde, foi então apresentado o principal motor de trabalho: o relatório. O investigador Paulo Nicola foi o responsável pela apresentação, durante a qual sublinhou a importância deste relatório para todas as instituições e decisores que, de facto, queiram melhorar e contribuir para os cuidados na diabetes. Com aposta em várias áreas de trabalho, o objectivo foi, desde o início, tornar este relatório numa ferramenta útil. Depois de esclarecida a base de trabalho que serviu como ponto de partida para a 1ª versão do relatório, o Investigador fez questão de reforçar o facto de este se tratar de um documento aberto, com a possibilidade de se aceder e comentar com o objectivo de enriquecer o trabalho até aqui realizado. “Temos aqui uma base de trabalho conjunto. É neste ponto que estamos, com disponibilização de análise e convite à colaboração”, finalizou Paulo Nicola.

Feito o convite, chegou o momento de passar à fase do trabalho de grupo. Os participantes, relatores e moderadores foram divididos em salas de trabalho, cada uma com um tema atribuído, com o objectivo de discutir e trocar perspectivas assentes em 3 grandes tópicos: Governação, maximizar e medir o impacto e disseminação, com o subtema: Investigação, evidência e translação, na sala 1; Organização de serviços de saúde e articulação de cuidados, sistemas de informação, na sala 2; Recursos humanos e formação, com o subtema: Apoio e capacitação dos doentes, na sala 3. Os grupos de trabalho debruçaram-se sobre a apreciação às análises desenvolvidas, e quais as mais relevantes para a situação portuguesa, complementando com novas propostas e um aperfeiçoamento do trabalho até aqui desenvolvido. A Sala 1 contou com a moderação de Hélder Mota Filipe, Bastonário da Ordem dos Enfermeiros e Professor Universitário a sala 2 com o moderador Alexandre Lourenço, Administrador Hospitalar no Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra e Membro da Comissão de Honra da Iniciativa D-Way, e a sala 3 com a moderação de Diogo Cruz, Médico Internista do Hospital de Cascais.

Uma filosofia centrada no doente

Passadas 2 horas de trabalho intenso, e feito o resumo das principais conclusões de cada sala, seguiu-se uma Mesa Redonda, com a presença de António Vaz Caneiro, Sónia do Vale, Directora do Programa Nacional para a Diabetes da DGS, e Hélder Mota Filipe. Nesta altura, o debate foi aberto a questões colocadas pela audiência e o objectivo foi claro: depois de análises, propostas e considerações, quais as perspectivas para o futuro? Para António Vaz Carneiro, a resposta passa pelo Patient-Centered Care. Ou seja, os Cuidados Centrados no Doente. Para o Presidente do ISBE, esta metodologia permite que os doentes estejam “constantemente a dar feedback ao sistema daquilo que querem ou necessitam. Não só nos cuidados do dia-a-dia, mas nomeadamente no desenho dos próprios sistemas de saúde. A filosofia aqui é colocar o doente no centro”. Para o Investigador Principal da Iniciativa D-Way, existe uma grande discrepância entre “aquilo que achamos importante para os doentes e aquilo que realmente é importante para eles. É crucial falarmos com os doentes e percebermos, de facto, quais são as suas necessidades, priorizar a sua presença nas nossas decisões”, acrescenta. E é precisamente neste sentido que Hélder Mota Filipe reforça a importância de “nos focarmos naquilo que queremos atingir com o doente diabético. Prestar os melhores cuidados ao doente, independentemente da estrutura dos cuidados de saúde e até mesmo da zona do país onde o doente vive”.

Para além de colocar o doente no centro do Sistema, de envolver todos os sectores nesta jornada que é a diabetes e de fazer uso dos dados para quando chegar a hora da tomada de decisão, o grande passo para o futuro - e uma das grandes conclusões deste debate - passa pela prevenção. “Deixar de ter a doença é deixar de ter também os problemas que vêm com ela”, declara Sónia do Vale, acrescentando: “É preciso diagnosticar precocemente, rastrear e prevenir”. Em muitos casos, é realmente possível que os indicadores da doença deixem de existir. Por isso, o grande desafio para o futuro é, de facto, “evitar que os doentes cheguem a ter diabetes”, remata.

A conclusão não poderia ser outra: este foi um dia de sucesso. Vários foram os temas debatidos e as questões levantadas. Ainda assim, o caminho a percorrer é longo e o trabalho a ser feito ficou longe de estar concluído. O pontapé de saída foi dado, mas as perguntas não ficam por aqui. É precisamente em busca de conclusões que no próximo dia 30 de Junho terá lugar a Conferência “Um Novo Olhar para uma Estratégia de Mudança: Apresentação do Policy Brief”. O objectivo é o de sempre: continuar a construir este novo caminho para a diabetes.

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