Mais de mil pessoas morreram em sismo no Afeganistão, o mais mortífero em 20 anos

“Era a última coisa de que o Afeganistão precisava”, comenta um responsável de uma agência humanitária.

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O terramoto aconteceu a meio da noite, numa região com poucos acessos, e os esforços de salvamento estavam a ser dificultados também pela chuva EPA

Um forte sismo no Afeganistão deixou pelo menos mil pessoas mortas e mais de 1500 feridas, deixando aldeias inteiras destruídas, num cenário “horrível”, disse Obaidullah Baheer, fundador da organização Save Afghanistan from Hunger. “Era a última coisa de que o Afeganistão precisava”, comentou à Al Jazeera. “Já estavam a enfrentar uma das piores crises humanitárias na história moderna, e agora isto.”

O diário britânico The Guardian cita o testemunho de Karim Nyazai, que estava na capital da província de Paktika, fora da sua aldeia, quando aconteceu o sismo com uma magnitude de 5,9 graus na escala de Richter. Regressou para encontrar “toda a aldeia soterrada”, descreveu Nyazai.

“Os que conseguiram sair antes de tudo desabar estavam a tirar os corpos dos escombros. Havia corpos embrulhados em cobertores por todo o lado”, contou. “Perdi 22 familiares, incluindo a minha irmã, e três dos meus irmãos. Morreram mais de 70 pessoas na aldeia.”

Sam Mort, uma das porta-vozes da Unicef, disse que haveria pelo menos 1800 casas destruídas nas zonas afectadas. “São casas muito simples que muito facilmente são destruídas”.

O terramoto aconteceu a meio da noite, numa região com poucos acessos, e os esforços de salvamento estavam a ser dificultados também pela chuva. “O problema é que muitas destas áreas, e o Afeganistão em geral, estão numa falha. A maioria das áreas atingidas são regiões montanhosas e as pessoas vivem nas encostas ou nos vales, o que as deixa especialmente vulneráveis a deslizamentos de terras que aconteçam em resultado de terramotos”, disse Obaidullah Baheer.

O epicentro do sismo, que se sentiu no Paquistão e na Índia, foi a quase 50 km da cidade de Khost, no Sudoeste do país, relativamente perto da superfície, o que piorou o seu impacto.

Imagens de Paktika mostravam algumas pessoas a ser levadas por helicópteros, e outras a ser tratadas nos escombros, como um homem a receber líquidos intravenosos enquanto estava sentado numa cadeira de plástico perto das ruínas da sua casa.

O problema é que o Afeganistão, onde os taliban tomaram o poder em Agosto do ano passado, não tem helicópteros suficientes para chegar a todos os sítios em que eram precisos, notou o director-geral da agência de informação Bakhtar.

Um porta-voz dos taliban, Bilal Karimi, disse que o país aceitava ajuda de organizações internacionais. Muito poucos países reconheceram o regime, que tomaram o poder rapidamente na sequência da retirada das forças internacionais lideradas pelos EUA, e que voltaram com restrições a liberdades e políticas ultraconservadoras – por causa dessas políticas, da situação económica e de segurança, mais de um milhão de pessoas deixaram as suas casas. E por causa do corte de relações diplomáticas, muitos dos bens do país no estrangeiro foram congelados, e a ajuda internacional diminuiu muito.

O país vive uma situação de pobreza extrema e ainda uma seca prolongada, que ameaçam milhares de vidas. Segundo as Nações Unidas, 95% dos afegãos não têm alimento suficiente, um número que sobe para praticamente 100% em casas de mulheres, segundo números de Março das Nações Unidas. Entre os efeitos da pobreza está o aumento do casamento infantil, com famílias a vender filhas para terem dinheiro para comer.

Além disso, os taliban também não conseguiram assegurar que a vida diária está livre de conflito – ainda no sábado, um ataque do Daesh fez vários mortos num templo sikh na capital, Cabul. Desde Abril, nota o New York Times, vários atentados terroristas mataram mais de cem pessoas, sobretudo civis das minorias xiita e sufi.

Em Janeiro, as Nações Unidas fizeram um apelo para mais de 5 mil milhões de dólares em ajuda humanitária para evitar o que o coordenador de emergências da ONU, Martin Griffiths, classificou de “catástrofe humanitária total”. A verba destina-se sobretudo a bens alimentares. A seca e a falta de alimento exacerbam a competição por recursos, levando a maior violência e pobreza, num círculo vicioso.

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