Conservadores em risco em (mais) dois testes de fogo para Johnson

Círculos de Wakefield e de Tiverton and Honiton vão a votos para escolher os sucessores de dois deputados tories que se demitiram devido a escândalos sexuais. Trabalhistas e Liberais-Democratas sonham com vitórias eleitorais que podem fragilizar o primeiro-ministro.

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Cartaz a apelar ao voto no candidato do Partido Trabalhista em Wakefield (Inglaterra) Reuters/JASON CAIRNDUFF

Cerca de duas semanas depois de ter sobrevivido a uma moção de desconfiança lançada pelos deputados do seu próprio partido, por causa dos pormenores e da forma como geriu o dossiê do escândalo das festas em Downing Street durante a pandemia, Boris Johnson tem novo teste de fogo nesta quinta-feira.

Os círculos eleitorais de Wakefield e de Tiverton and Honiton vão a votos, depois de os respectivos deputados, do Partido Conservador, terem abandonado os cargos – Imran Ahmad Khan demitiu-se após ter sido condenado por agressão sexual e Neil Parish também o fez, depois de ter sido apanhado a ver filmes pornográficos na Câmara dos Comuns – e estão em risco de trocar de mãos.

Wakefield, na região Norte de Inglaterra, pertence à chamada “red wall” operária que, tendo sido trabalhista desde 1932, mas votado a favor do “Brexit” no referendo de 2016, acabou conquistada pelos conservadores nas legislativas de 2019. Segundo as sondagens, o Labour tem uma vantagem de quase 20% e deve recuperar facilmente o território.

Quanto a Tiverton and Honiton, no Sudoeste de Inglaterra, trata-se de bastião tory desde os anos 1920. Não há grandes sondagens sobre a eleição, mas os Liberais-Democratas acreditam que é possível reverter os mais de 24 mil votos de diferença para o Partido Conservador verificados em 2019.

Os liberais lembram que em Dezembro do ano passado recuperaram de uma desvantagem semelhante para vencer North Shropshire, outro bastião conservador, numa eleição catalogada, na altura, como um “referendo” a Boris Johnson.

Se é certo que as dinâmicas locais contam muito nas eleições britânicas, o fraco desempenho dos conservadores nas eleições municipais de 5 de Maio mostram que o actual estado da política nacional é, neste momento, um importante elemento de influência das votações a nível local.

O escândalo do “Partygate, o aumento do custo de vida no Reino Unido, o impacto das greves e a fragilidade político-partidária de Johnson – mais de 40% da bancada parlamentar do seu partido votou a favor da sua demissão – são factores a ter em conta para as by-elections desta quinta-feira.

Em caso de derrota dos conservadores em ambos os círculos ingleses, os críticos internos do primeiro-ministro devem vir a terreiro refutar o grande argumento apresentado pelo próprio quando tentava convencer os deputados a rejeitarem a moção de desconfiança – sublinhava que se trata de um “vencedor de eleições”.

Apesar de ter ganho um “salvo-conduto” de 12 meses, durante os quais não pode voltar a ser desafiado internamente, Johnson precisa, ainda assim, de convencer o partido de que ainda é o melhor candidato para disputar as próximas legislativas, previstas para 2024.

O chefe do Governo tem procurado recuperar forças com a apresentação de grandes projectos de lei – sobre a economia, a habitação, os direitos humanos ou o protocolo irlandês do “Brexit” –, e tem como objectivo chegar ao congresso anual do Partido Conservador, agendado para Outubro, revigorado politicamente.

Os resultados das eleições Wakefield e de Tiverton and Honiton só devem ser conhecidos na sexta-feira.

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