Vinhos de Portugal, um projecto de futuro

É muito importante para Portugal que o aumento do valor das exportações esteja assente no crescimento do preço médio. Trazendo mais sustentabilidade económica ao sector.

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A exportações dos vinhos portugueses mudaram nos últimos 20 anos, com várias regiões a afirmar os seus vinhos além-fronteiras. Adriano Miranda

O sector dos vinhos tem tido uma notável evolução nos últimos anos. Embora o nosso país produza vinhos desde os tempos ancestrais, a verdade é que há poucos anos, nos anos 70 ou 80, as marcas de vinhos engarrafados não abundavam. Se pensarmos que, nesses anos, regiões como o Douro ou o Alentejo, apenas para citar algumas, quase não tinham marcas de vinhos engarrafados, facilmente nos apercebemos do rápido crescimento deste sector nos últimos anos.

Também em matéria de exportação, a performance dos nossos vinhos tem sido impressionante, conseguindo manter um crescimento quase constante das exportações em valor, pelo menos desde 1996. Em boa verdade, há poucos anos o nosso país apenas era conhecido pela produção de Vinho do Porto ou Vinho da Madeira, sendo hoje a realidade bem diferente. Se há 20 anos o Vinho do Porto representava 65% das nossas exportações em valor, hoje representa 36%. Por aqui facilmente se percebe a evolução das nossas exportações, com várias regiões a afirmar os seus vinhos além-fronteiras.

Foi nesse sentido que em 1996 se fundou a ViniPortugal, Associação Interprofissional do Vinho, tendo como objectivo ajudar a promover os vinhos portugueses no Mundo. O foco tem sido, claramente, o de aumentar o reconhecimento dos nossos vinhos fora de Portugal, proporcionando um crescimento nas exportações, não só assente no volume, mas principalmente no preço médio, que é o que nos interessa tendo em conta a nossa escala. Para dar resposta a este objectivo foi ainda criada em 2010 a marca “Vinhos de Portugal / Wines of Portugal” que muito tem contribuído para a percepção de Portugal enquanto um país produtor de vinhos de qualidade, o que se tem traduzido efectivamente em ganhos de valor e, consequentemente, no aumento consecutivo das nossas exportações.

Como referido, é muito importante para Portugal que esse aumento do valor das exportações esteja assente no crescimento do preço médio. Se Portugal já exporta, em média, cerca de 47% da sua produção, e sendo o país do mundo com maior consumo per capita de vinho, facilmente se depreende que não temos capacidade para grandes aumentos do volume exportado. Assim sendo, o nosso objectivo assenta no crescimento de preço médio, trazendo assim mais sustentabilidade económica ao sector.

Actualmente, a ViniPortugal investe em 21 mercados para promover os vinhos de Portugal. Do estudo e análise destes mercados, aquilo que constatamos é que os vinhos portugueses têm vindo a ganhar quota de mercado em praticamente todos os países. Em muitos desses países, os nossos vinhos são já líderes de crescimento, tanto em volume como em valor. Podemos assumir o sucesso do caminho que os vinhos de Portugal têm feito nos últimos anos, mas sempre com a humildade e a clareza dos muitos desafios que temos pela frente.

Temos assistido a fortes pressões por parte de fundamentalistas anti-álcool que começam a influenciar a política europeia do sector vitivinícola. Apesar de estarmos a trabalhar com um produto integrado na dieta mediterrânica e num estilo de vida saudável, desde que consumido com moderação, aquilo a que temos vindo a assistir é a um ataque cego e fundamentalista ao nosso sector.

Simultaneamente, vemos crescer, um pouco por todo o mundo, várias medidas que nada mais são do que barreiras ao livre comércio. Vários países, com o intuito de proteger os seus mercados ou as suas indústrias, vão criando medidas que dificultam a importação de vinhos.

Também as alterações climáticas afectam o nosso sector, sobretudo a produção de vinho em regiões mais quentes e de menor pluviosidade. Estando a vinha instalada maioritariamente em solos pobres e delgados, o aumento das temperaturas médias, o aumento do número de extremos climáticos e a diminuição da pluviosidade, estão já a interferir na produção de uvas em algumas zonas do país.

Ainda que os desafios sejam ambiciosos e difíceis, sabemos que temos um sector altamente profissionalizado e resiliente e que, em conjunto, seremos capazes de encontrar soluções para continuar a crescer e a proporcionar ao mundo o prazer de provar os nossos vinhos de excelência. Um brinde a um futuro melhor, pois bem o merecemos!

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