À margem do direito internacional

O que o governo de Boris Johnson decidiu fazer foi subcontratar externamente a questão dos imigrantes ilegais, um pouco como são exportados os lixos tóxicos para os países pobres.

O príncipe Carlos terá afirmado numa conversa particular ser “terrível” a forma como o governo abordou a questão dos que procuram asilo no país, referindo-se ao plano de transferir para o Ruanda aqueles que entram ilegalmente no Reino Unido e pedem asilo político. O arcebispo de Cantuária, o mais alto dignitário da igreja da Inglaterra, considerou que esse plano levantava “sérias questões éticas”, acrescentando que “subcontratar as nossas responsabilidades, mesmo a um país que se procura comportar bem, é o oposto da natureza de Deus, que assumiu ele próprio a responsabilidade pelos nossos falhanços”. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) produziu uma extensa e profunda análise, extremamente crítica, do acordo Reino Unido-Ruanda, considerando que o mesmo “não cumpre as normas exigíveis relativas à legalidade e adequação das transferências bilaterais ou multilaterais de requerentes de asilo” e afirmando expressamente que “este acordo, que entre outras preocupações procura transferir responsabilidades e carece das necessárias garantias, é incompatível com a letra e o espírito da Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951”.

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