Portugal confirma mais 35 casos. “Controlo do surto continua a ser desafiante”, avisa OMS e ECDC

Já se somam mais de 2000 casos confirmados em países onde a doença não é endémica – 85% deles no continente europeu. Portugal regista maior subida desde o início do surto.

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Já foram confirmados mais de 2000 casos de varíola-dos-macacos em países onde a doença não é endémica Reuters/DADO RUVIC

A Direcção-Geral da Saúde aumentou esta sexta-feira o número de casos confirmados de varíola-dos-macacos para 276. São mais 35 pessoas infectadas em Portugal (a maior subida desde o início do surto), estando todos estáveis e a receber acompanhamento clínico. A maioria tem menos de 40 anos, sendo todos homens. Em todo o mundo, já se há mais de 2000 pessoas com diagnóstico positivo em países onde a doença não é endémica.

“O controlo do surto continua a ser desafiante”, afirmaram Andrea Ammon, directora do Centro Europeu de Controlo de Doenças, e Hans Kluge, responsável da Organização Mundial da Saúde para a Europa, esta quinta-feira num editorial publicado na revista científica Eurosurveillance.

Apesar de todos casos confirmados em Portugal serem registados em homens, o vírus da varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX) não afecta apenas este grupo da população. Os primeiros focos de exposição em Portugal e Espanha terão sido locais utilizados para encontros sexuais por homens, o que, devido à transmissão por contacto próximo, terá desencadeado maior contágio entre homens. No entanto, já existem casos confirmados em mulheres.

“Muitos casos – mas nem todos – relatam parceiros sexuais múltiplos e às vezes anónimos, bem como a participação em vários grandes eventos ou festas”, apontam os responsáveis europeus sobre os focos de contágio. “Devemos lembrar, como vimos em surtos anteriores, que o VMPX não discrimina com base na orientação sexual ou identidade de género”.

Ammon e Kluge reiteram ainda no texto publicado esta quinta-feira que “a apresentação clínica atípica do VMPX durante este surto, juntamente com a falta de histórico de viagens, pode ter atrasado a detecção nas fases iniciais”. Este factor pode também indicar que o vírus circula há vários meses silenciosamente no continente europeu.

A doença se transmite pelo contacto próximo com casos confirmados ou suspeitos, gotículas grandes (como tosse ou espirros) ou o toque em materiais contaminados.

No artigo publicado na Eurosurveillance, Ammon e Kluge definem quatro pilares essenciais na resposta ao surto na Europa. O combate ao estigma e à discriminação na resposta das instituições através da comunicação pública é relevado pelos autores, que apontam ainda a necessidade de uma elevada qualidade nas recomendações e orientações emitidas.

Além destes dois aspectos, urgem as instituições europeias a procurar responder às questões em aberto sobre a disseminação e mecanismos de transmissão do vírus, promovendo também o trabalho conjunto entre países e entidades (à imagem do que tem acontecido a partir da sequência genómica de amostras do vírus). Nenhum destes pilares elenca qualquer medida equacionada para a Europa em específico, mencionando apenas princípios genéricos para atacar um surto viral como o que afecta o continente europeu – que conta com 85% dos casos registados.

Na próxima semana, a OMS vai reunir para avaliar se este surto representa uma emergência internacional de saúde pública.

Já esta semana, a Comissão Europeia confirmou a compra de mais de 100 mil doses de vacinas de terceira geração que serão distribuídas a partir do final de Junho pelos países prioritários. Portugal será, ao que tudo indica, um dos prioritários tendo sido já confirmado que receberemos 2700 doses.

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