Tumores do rim: que avanços?

Neste que é o Dia Mundial do Cancro do Rim, reconheço que diagnosticamos cada vez mais e cada vez em fases mais precoces, mesmo sendo este um cancro tendencialmente silencioso. A que se deve este avanço?

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Se a doença é diagnosticada numa fase em que está localizada apenas ao rim, então o tratamento adequado é a cirurgia DR/National Cancer Institute

Os tumores do rim são relativamente raros. Em termos mundiais, constituem a 16.ª causa de doença oncológica (a 14.ª, em Portugal) bem como de morte por cancro — cerca de 2% dos novos casos; um pouco menos como causa de morte.

Não por acaso, os tumores do rim são cada vez mais diagnosticados e cada vez mais em fases mais precoces do que, por exemplo, acontecia há cerca de 20-30 anos. Porquê? Por um lado, porque actualmente existem mais e melhores exames de imagem, como por exemplo, a ecografia ou a TAC. Por outro, porque o acesso a estes exames complementares é cada vez mais generalizado, fruto de uma medicina à qual se acede com mais facilidade. Finalmente, muitas vezes o diagnóstico é feito quase por acaso: ou seja, por razões diversas, é solicitada a realização, precisamente, de uma ecografia ou uma TAC e, sem que tenha sido essa a suspeita para justificar o exame, é identificado o tumor.

É que tipicamente, especialmente em fases iniciais, o tumor do rim dá poucos ou nenhuns sintomas. Pode dar dor — mas a vasta maioria das vezes uma dor na região dos rins não é do rim e, ainda menos, causada por um tumor do rim — ou perda de sangue na urina (o que também é muito pouco frequente).

Seja como for, uma vez diagnosticado um tumor do rim (e como em todas as situações oncológicas) há que estadiá-lo. Isto é, realizar exames para perceber se a doença está localizada ao rim ou se metastizou. O que significa metastizar? É uma característica potencial de todos os tumores, a de poderem passar, desenvolverem-se, noutros órgãos. Não é inevitável, especialmente se o diagnóstico não é tardio e se se procedeu a tratamento adequado. Mas o desenvolvimento de metástases significa um agravamento do prognóstico.

Se a doença é diagnosticada numa fase em que está localizada apenas ao rim, então o tratamento adequado é a cirurgia, chamada nefrectomia e que consiste na remoção do rim afectado. Um dos desenvolvimentos que se têm verificado igualmente no tratamento desta doença é que algumas vezes é possível fazer uma remoção parcial do rim. Viver com um único rim é totalmente compatível com uma vida normal, sem limitações. Em situações excepcionais (como, por exemplo, quando as condições gerais do doente contra-indicam uma cirurgia ou se, por qualquer razão, só tem já um rim) podem-se considerar as chamadas terapêuticas ablativas (não tão definitivas como a cirurgia) que consistem não numa remoção física do tumor e do rim, mas na aplicação de um agente físico.

Fundamental é, como em todos os tumores, ter um diagnóstico anátomo-patológico, seja pela análise do tumor retirado, seja por biópsia do tumor ou de uma metástase. Esta informação permite definir o tipo de tumor (há vários subtipos), o que, por sua vez, tem interesse para definir prognóstico, por vezes também que tipo de tratamento (na doença metastizada, em particular) ou ainda para definir se a situação se enquadra nalguma predisposição genética.

Esta predisposição genética, isto é, o próprio doente ter / nascer com uma informação genética que possa determinar uma maior probabilidade de desenvolver um tumor do rim (ou outros) acontece apenas numa minoria deste tipo de tumores (bem como nos outros). O que pode levar a pensar que essa possa ser uma possibilidade? As características do exame anátomo-patológico, a idade do diagnóstico, a existência de outros casos de doença oncológica na família pode levar a uma suspeita mais consistente dessa predisposição e, de acordo com critérios definidos, fazer então análises específicas com vista a confirmá-la (ou não!)

Finalmente, também na doença metastizada, de prognóstico mais reservado, se têm verificado significativos avanços nos últimos 15 anos com o aparecimento de novos medicamentos que em muitas situações vêm demonstrar uma significativa eficácia no controlo da doença. A clássica quimioterapia não é já hoje praticamente usada nestes tumores, tendo sido substituída pelas chamadas terapêuticas-alvo.

Falar em tumores nos rins em 2022 é falar de um campo dentro da oncologia em que muitos avanços já se realizaram e tantos outros estão em curso. A medicina avança, quer na precocidade do diagnóstico, quer na precisão do estadiamento, quer na eficácia da abordagem terapêutica.

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