Cartas ao director
A Brasileira do Chiado
Longe vão os tempos em que tomar um cafezinho na Brasileira ao balcão ou na mesa era sempre com muita satisfação.
Pois bem, esta manhã, como sempre faço cada vez que estou no Chiado, e com espanto meu, informaram-me que para tomar um simples café teria de me sentar nas mesas pois não tinham serviço ao balcão. E agora percebo porquê depois de terem cobrado 2,50 euros por um café.
Por momentos, pensei que estava no Aeroporto de Lisboa mas não. Incrédulo, protestei pelo exagero do preço da bebida e, desde logo, fiz uma promessa: à Brasileira do Chiado nunca mais. Se Fernando Pessoa fosse vivo haveria de pensar o mesmo.
José Luís Alves, Lisboa
O SNS está adoentado
Há urgências hospitalares que não funcionam a tempo inteiro, faltam médicos, sobretudo em obstetrícia que é uma valência médica fundamental para a continuidade da nossa espécie, já que trata das senhoras grávidas.
O Ministério da Saúde tem dado respaldo significativo à medicina privada e, por outro lado, a Lei de Bases da Saúde tem ficado secundarizada. Agrava-se um problema estrutural dos médicos subcontratados ganharem três a cinco vezes mais, do que os que estão no quadro.
Ainda assim, parece que nesta situação, que já vem sendo cíclica, só os médicos é que contam, sendo que, se não houver enfermeiros, o serviço não anda. Ninguém fala dos assistentes operacionais, que são uma complementaridade para a engrenagem do SNS poder fluir, porquê?
Vítor Colaço Santos, São João das Lampas
A educação hoje
Quase tudo da política educativa do atual governo tem apenas o objetivo de atingir o sucesso estatístico pleno. Pouco importa que a esse sucesso estatístico corresponda um sucesso efetivo de qualificações. Para atingir esse objetivo, são muitos os estratagemas usados. A lista é longa, mas podemos começar pela carga de trabalhos burocráticos em que se mete um professor que se atreva a dar uma negativa ou a reprovar um aluno no ensino básico e secundário.
Os condicionalismos passam também pela atribuição de 25% no peso da classificação de cada aluno em cada disciplina para um trabalho de equipa que evidentemente por mais cuidadosos que sejam as formas de avaliação acabam inevitavelmente por beneficiar os alunos que menos trabalham. Esses condicionalismos passam também pela obrigatoriedade de cada disciplina dispensar tempos letivos para a realização de “projetos” da disciplina de Cidadania, reduzindo assim o peso dos conteúdos programáticos. A lista de condicionalismos passa ainda por ligar a percentagem do “sucesso educativo” à progressão na carreira de cada professor. Não admira assim que se proponha a redução ou mesmo extinção de exames nacionais ou de provas de aferição, pois estes são a forma mais clara e justa de se avaliar a qualidade de um sistema de ensino.
João Pereira, Oeiras
O SNS e as carreiras médicas
O mote e o esclarecimento. O primeiro deu-mo Amílcar Correia no editorial de 12 de Junho ( “O SNS não pode fechar”), o segundo é dizer que me refiro ao SNS, ou seja, à parte pública do sistema. Portanto, àquela de que sou aposentado e que me estruturou durante toda a vida profissional e que agora me dá o sustento através da Caixa Geral de Aposentações.
Dito isto, venho aqui num momento em que o SNS, mais uma vez, anda em bolandas na comunicação social a propósito da falta de médicos que se vem acentuando. Isto enquanto os hospitais privados vão proliferando, muito à custa da troca do serviço público pelo privado, por parte daqueles profissionais. Por que se dá este fenómeno? Haverá várias razões, mas tenho para mim que a principal foi o acabar das carreiras médicas nacionais — hospitalar, saúde pública e medicina geral e familiar — com relevo para a primeira.
Antes, os médicos iam buscar o saber e o prestígio ao público e compensavam o fraco pecúlio com alguma clínica privada. Acabaram com as carreiras médicas nacionais e bem avaliadas e está mesmo a ver-se o que sucedeu. O prestígio foi-se e ficou o dinheiro como factor de decisão único. Tudo límpido, tudo legal, tudo ético. Vivemos no mercado, não é? E nos contratos “à peça” travestidos de carreiras. Portanto fica a pergunta: quem acabou com as ditas carreiras? E porquê? As respostas parecem-me óbvias, é só rebobinar... enquanto se vai lendo os programas dos partidos para o sector. Alguns insuspeitos...
Fernando Cardoso Rodrigues, Porto