Um colapso anunciado

É preciso uma reforma urgente e não chegam as boas intenções do Governo. A desorientação é total.

A falta de profissionais em vários setores da Saúde é mais um sinal no rastilho da degradação do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A degradação crescente do SNS, em boa parte devido à falta de planeamento e ao desinvestimento em profissionais e equipamentos, e a deficiente cobertura de cuidados de saúde primários da população, faziam antever o colapso anunciado do Sistema de Saúde.

Sem desvalorizar o excelente trabalho dos profissionais de saúde, o sistema está sem capacidade de resposta. É preciso uma reforma urgente e não chegam as boas intenções do Governo. A desorientação é total.

Este deverá ser um trabalho conjunto, com a participação de todos os grupos profissionais e a intervenção de todas as instituições ligadas ao sector. Uma reforma adaptada aos novos tempos para responder às reais necessidades dos cidadãos.

A prestação de cuidados de saúde no SNS enfrenta diversos desafios. Alguns deles são internos e passam pela ausência de organização, liderança e responsabilização. Outros são externos e prendem-se, essencialmente, com o ritmo da inovação tecnológica e com o aumento da carga da doença crónica. Este último exige uma resposta mediata: o crescente número de pessoas com doença crónica a recorrer aos hospitais devido a episódios agudos tem de obrigar a uma reorganização dos serviços que permita inverter esta realidade.

Outro desafio é prepararmo-nos para o futuro. As guerras, os processos migratórios, a pobreza e a fome, a perda da biodiversidade e a deflorestação são fatores que podem provocar surtos de doenças infeciosas. A existência de relação entre epidemias ou pandemias recentes, como o HIV, SARS, MERS, H1N1, Ébola e, mais recentemente, o SARS-CoV-2, com as alterações climáticas, está na ordem do dia. Segundo múltiplas organizações internacionais, incluindo a Organização Mundial de Saúde, a instabilidade climática afeta os ecossistemas e provoca danos à saúde da população.

O aparecimento de doenças emergentes, para as quais o sistema imunológico não está preparado, provoca índices de morbilidade e mortalidade relevantes. A pandemia, que ainda vivemos, veio reforçar a importância de estarmos preparados com um sistema de saúde robusto.

Como médico gostaria de ver promovida a participação dos profissionais de saúde na gestão, alicerçada em conhecimento técnico, de ver assegurada uma verdadeira articulação entre os cuidados de saúde primários, os cuidados hospitalares e os cuidados continuados, garantindo uma integração funcional, e não ver esquecida a prevenção que está na base dos cuidados de saúde e é relevante caminhar nesse sentido.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Ler 1 comentários