Cartas ao director
A rainha e os ditadores
Fui sempre republicano e, estou certo, continuarei a sê-lo. Contudo, fiquei empolgado com as cerimónias do Jubileu da rainha Isabel II. Que organização, que bom gosto, que segurança, que alegria e, sobretudo, que respeito e amor por uma senhora que, desde 1952, cumpre o que considera um dever sagrado: aprofundar o sentimento de identidade dos britânicos, dos cidadãos da Commonwealth e da Europa!
Ao longo dos quatro dias festivos perguntei-me o que sentiriam os ditadores, ao olharem para as imagens que recebiam directamente de Londres? É impossível que não se apercebessem das diferenças radicais do culto que lhes é prestado nos seus países e o culto que centenas de milhões de seres humanos prestam a Isabel II.
Obrigado, Reino Unido, pelo abraço que deste ao mundo livre e pela lição dada aos políticos que ainda não compreenderam que não é pelo autoritarismo e pela posse dos mais sofisticados mísseis que se conquista o respeito e o amor.
José Cymbron, Lisboa
Caldeirão de siglas e acrónimos...
Confesso a minha inapetência e, logo, razoável inaptidão, para a linguagem “cabalística”. Passe a adulteração, o texto de Susana Peralta (S.P.) – “O Dia do Portugal das fracas instituições” – no PÚBLICO de sexta-feira, está tão prenhe de siglas e acrónimos (devidamente identificados, é certo) que desmotiva qualquer tipo como eu a fazer a sua exegese. Mesmo assim, dá para entender que há um tão grande número de instituições – com pessoas a representá-las – a “mexerem no dinheiro” do PRR que a coisa terá tudo para descambar. Bem sei que S.P. é uma economista com intervenção política e do “contra”, mas o dito “caldeirão” não foi por certo inventado e, embora de leitura maçadora, corresponderá ao tal “hábito” (?) português de burocratizar (baralhar?) as coisas para, depois, tudo ser possível e justificável. Ou seja, talvez o exagero de siglas e acrónimos da articulista faça pandã com um mesmo “exagero” da realidade dos factos no “tal Portugal” que ela denuncia.
Fernando Cardoso Rodrigues, Porto
Governo PS, amigo dos ex-combatentes?
O Estatuto dos Ex-Combatentes – Lei n.º 46/2020, de 20 de Agosto –, cuja exequibilidade, em boa parte, dependia de emissão da Portaria n.º 210/2020 (aprovação do mod. Cartão de Combatente), necessário para, pela Portaria n.º 198/2021, publicada em Outubro de 2021, beneficiarem nomeadamente de transportes públicos, ainda não está implementado.
Com efeito, apesar de várias solicitações nesse sentido, haverá pelo menos algumas centenas de titulares daquele Estatuto que dele não podem usufruir, entre os quais o signatário, por os respectivos Serviços do Ministério da Defesa ainda não lhes terem passado cartão…
Apesar da compreensível morosidade da sua produção, dado o seu número, já não se aceita que, ao fim de quase dois anos da referida Portaria n.º 210/2020, o Estado continue a viver no pecado da “omissão”, privando assim muitos ex-combatentes – grande parte deles de saúde e situação financeira débeis – de aproveitarem desses poucos benefícios.
A esperança não é ainda assim grande, já que, em princípio, só haverá eleições para o Governo daqui a quatro anos…
Joaquim Heleno, Queluz
Ainda os metadados
Tal como era previsível desde o momento em que o Tribunal Constitucional declarou inconstitucional a lei dos metadados, já começaram a desfilar pela enorme passadeira então criada criminosos julgados e condenados e agora postos em liberdade. Há muita gente com culpa nesta situação, desde a ex-ministra Van Dunem, a primeira e grande responsável, a António Costa e aos próprios juízes do Tribunal Constitucional, que estiveram desde 24 de Setembro de 2019 até Novembro de 2021 sem iniciar a discussão da referida lei. Claro que os advogados vão usar até ao limite a situação criada porque, para eles, o importante é a liberdade daqueles que defendem, obtida seja a que preço for. Estarão, neste momento, a ex-ministra Van Dunem os juízes do TC contentes? A procissão ainda quase nem começou e em breve veremos, talvez, os grandes processos actuais a acabarem sem que ninguém seja julgado e condenado.
Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora