Encontrados vestígios humanos perto do local onde jornalista e antropólogo desapareceram na Amazónia

Há cada vez menos esperanças em encontrar com vida Dom Phillips e Bruno Pereira, que estão desaparecidos há seis dias. Resposta das autoridades criticada.

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Operações de busca do Exército na Amazónia pelo jornalista Dom Phillips e pelo perito Bruno Pereira BRUNO KELLY / Reuters

Seis dias depois de ter sido dado o alerta para o desaparecimento do jornalista britânico, Dom Phillips, e do especialista em assuntos indígenas, Bruno Pereira, a Polícia Federal disse ter encontrado material genético humano no local onde ambos foram vistos pela última vez e onde decorrem as buscas.

São cada vez mais reduzidas as esperanças de encontrar com vida Phillips e Pereira, desaparecidos desde domingo passado na região do Vale do Javari, no estado do Amazonas. O jornalista britânico, que vive no Brasil há mais de 15 anos e tem uma vasta experiência na cobertura da Amazónia, e o antropólogo, considerado um profundo conhecedor da região, estavam a fazer uma viagem de barco pelo rio Itacoaí quando desapareceram.

Phillips, que colabora sobretudo com o jornal The Guardian, estava a trabalhar num livro sobre a floresta amazónica e dirigia-se para a cidade de Atalaia do Norte, na fronteira entre o Brasil e o Peru.

O Governo britânico pediu às autoridades brasileiras para esgotarem todas as possibilidades para encontrarem Phillips e Pereira, e mostrou disponibilidade para apoiar as operações de busca.

Na sexta-feira, a Polícia Federal revelou ter encontrado material “aparentemente humano” que vai comparar laboratorialmente com amostras genéticas dos dois desaparecidos. Também foram detectados vestígios de sangue no barco de um pescador que foi detido por posse ilegal de arma, que as autoridades suspeitam poder estar envolvido no desaparecimento do jornalista e do investigador.

Phillips e Pereira tinham recebido ameaças alguns dias antes de terem desaparecido. Na região do Vale do Javari, uma enorme terra indígena com uma área superior à da Áustria, são comuns as invasões por parte de garimpeiros e madeireiros. Na última década, o estado do Amazonas concentrou 77% dos homicídios motivados por disputas de terra e recursos naturais no Brasil.

A zona onde confluem as fronteiras do Brasil, Peru e Colômbia é também uma parte central da rota do narcotráfico e os confrontos entre grupos criminosos têm aumentado nos últimos anos.

A resposta das autoridades públicas tem sido muito criticada por organizações de defesa dos direitos indígenas e também por associações de jornalistas, que acusam o Governo federal de Jair Bolsonaro de desvalorizar o caso. Na primeira ocasião em que comentou os desaparecimentos, Bolsonaro disse que o jornalista e o antropólogo estavam “numa aventura que não é recomendada”, sugerindo que ambos possam ter sido “executados”.

Bolsonaro é conhecido por defender a exploração económica da Amazónia e é muito crítico das medidas de protecção ambiental, que considera excessivas, e dos princípios de demarcação das terras para os povos indígenas, garantidos pela Constituição. Desde que chegou ao poder, os órgãos de protecção ambiental têm sido constantemente desautorizados e apresentam altos índices de subfinanciamento. Em resultado, a desflorestação da floresta amazónica tem batido recordes sucessivos.

O Exército iniciou as buscas apenas 48 horas depois dos primeiros alertas sobre os desaparecimentos e foi necessária uma decisão judicial para que fossem mobilizadas aeronaves, consideradas essenciais numa operação de busca numa área tão remota e tão vasta.

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